Um General na Biblioteca

(Carla ScalaEjcveS) #1

escancaradas, quando o homem de sobretudo voltou, segurando a senhora, que
se deixava empurrar e soltava um grito quase de criança. Fecharam-se no carro
e partiram; e novamente os ciclistas enfrentaram a poeira.
— Enquanto nós começamos o nosso dia — Tommaso tossiu —, os bêbados
acabam o deles.
— Objetivamente — retrucou o amigo, parando para olhar para trás — ele
não estava bêbado. Olhe que freada.
Estudaram a marca deixada pelos pneus. — Puxa... Que coisa... com um
carro desses... — retrucava Tommaso. — Incrível! Você sabe muito bem que
um carro assim bloqueia...
Não terminou a frase; os olhares dos dois, passando pelo chão ali em volta,
tinham parado num ponto fora da estrada. Havia algo brilhando num arbusto.
Disseram juntos, baixinho: — Ei.
Desceram do selim, encostaram as bicicletas numa guia da estrada. — A
galinha botou ovo — disse Pietro, e pulou para o campo numa ligeireza que
nunca se esperaria que tivesse. Na moita, havia um colar de pérolas de quatro
voltas.
Os dois operários esticaram as mãos e, com delicadeza, como se colhessem
uma flor, soltaram do galho o colar. Seguravam-no ambos com as duas mãos,
tocando nas pérolas com as pontas dos dedos, mas só um pouquinho, e, assim, as
aproximaram dos olhos.
Depois, juntos, como insurgindo-se contra a submissão fascinante que o
objeto inspirava, baixaram os punhos, mas nem um nem outro largou o colar.
Pietro sentiu que precisava falar, soprou e disse: — Viu só o tipo de gravata que
está na moda?...
— É falso! — gritou-lhe Tommaso num ouvido, na mesma hora, como se já
há algum tempo morresse de vontade de dizer isso, aliás, como se tivesse sido
esse o seu primeiro desejo assim que viu o colar, e como se esperasse apenas um
sinal qualquer de satisfação do amigo para poder lhe retrucar desse jeito.
Pietro levantou a mão que segurava o colar e também tirou de cima dele o
braço de Tommaso. — O que é que você sabe disso?
— O que eu sei é que você deve acreditar no que lhe digo: as joias de
verdade, eles guardam sempre no cofre.
Passavam no colar as mãos grandes, duras e enrugadas, mexiam os dedos
entre as voltas, e as unhas pelos interstícios entre as pérolas. As pérolas
filtravam uma luz fraca como gotas de geada numa teia de aranha, uma luz de
manhã de inverno, que não nos convence da existência das coisas.
— Verdadeiras ou falsas... — disse Pietro —, eu, sabe... — e tentava
provocar no amigo uma expectativa hostil diante do que estava prestes a dizer.
Tommaso, que queria ser o primeiro a encaminhar a conversa naquela

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