passa o sussurro do vento, como sempre, desde um pouco antes da aurora. Não,
não compreendo; se Deus se meter nas nossas questões familiares escocesas —
e, em caso de guerra de religião, é disso que de fato deverá se tratar —, sabe-se
lá o que pode acontecer; cada um de nós tem seus interesses e pecados, os Mac
Dickinson mais que todos, e a Bíblia está aí para nos explicar que Deus tem
sempre um outro objetivo a alcançar que não aquele que os homens esperam.
Talvez tenhamos pecado justamente nisso, pois sempre nos negamos a
considerar nossas guerras como guerras de religião, iludindo-nos que assim
poderíamos nos arranjar melhor para fazermos alianças quando fosse
conveniente. Há demasiado espírito de acomodação nesta parte da Escócia, não
há clã que não lute sem segundas intenções. Que o nosso culto seja ministrado
pela hierarquia desta ou daquela igreja, na comunidade dos fiéis ou no fundo de
nossas consciências, nunca teve muita importância para nós.
Eis que vejo lá longe, na fronteira do brejo, uma massa compacta de tochas.
Até as nossas sentinelas as perceberam: ouço o pífaro tocar as notas do alerta,
do outro lado da torre. Como será a batalha? Talvez estejamos todos prestes a
expiar nosso pecado: não tivemos coragem suficiente de sermos nós mesmos. A
verdade é que, entre todos nós, presbiterianos, episcopais, metodistas, não há
ninguém nesta parte da Escócia que creia em Deus: nenhum, digo eu, nobres ou
religiosos ou arrendatários ou servos, que creia realmente nesse Deus cujo nome
tem sempre nos lábios. Eis que as nuvens empalidecem a oriente. Ei, vocês,
acordem! Rápido, e selem o meu cavalo!
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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