National Geographic - Portugal - Edição 221 (2019-08)

(Antfer) #1
GRUTAS DO BORNÉU 51

a um local calmo e sereno onde o rio desapare-
cia terra adentro. Os homens pegaram em fitas
métricas e começaram a topografar a escuridão,
esperando alcançar a parede do fundo em breve.
No entanto, nenhuma parede apareceu. Por
isso, experimentaram uma táctica diferente, dan-
do uma curva apertada, convencidos de que iriam
bater numa parede lateral. Ouviram salanganas
piando sobre si e o rio rugindo algures lá em bai-
xo. Mesmo assim, não havia parede. Os feixes das
lanternas dos capacetes perdiam-se na escuridão.
Após 17 horas de explorações, os homens saí-
ram aos tropeções da Gruta da Boa Sorte, enchar-
cados e confusos. Teriam caminhado em círculos
durante várias horas? Ou estavam prestes a fazer
uma descoberta extraordinária?
Mais tarde, outras equipas provariam que a
Sala Sarawak é o maior espaço fechado conhe-
cido do planeta, com 600 metros de compri-
mento, 435 metros de largura e 150 metros de
altura. Tem mais do dobro do tamanho do mais
conhecido recinto desportivo do Reino Unido, o
Estádio de Wembley.


ENQUANTO ATRAVESSÁVAMOS a floresta tropical
densa em direcção à Gruta da Boa Sorte, pergun-
tei ao espeleólogo Philip Rowsell, também conhe-
cido como “Mad Phil”, qual a razão que levava um
explorador ambicioso a regressar a um local tão
visitado, quando já tinham ali sido estabelecidos
tantos recordes. Ele contrapôs que as grutas
nunca revelam tudo na primeira visita. “É fre-
quente encontrar características que passaram
despercebidas aos exploradores anteriores.
Sobretudo quando são tão absurdamente grandes
que nos deixam atordoados.”
A Sala Sarawak era tão grande, explicou Mad
Phil, que continha, quase de certeza, novas pas-
sagens, sobretudo no tecto, onde nunca ninguém
xas procurara. Embora seja tentador pensar que
as grutas são parecidas com poços de mina (túneis
que descem de forma relativamente rectilínea),
as grutas naturais não são lineares, expandindo-
-se e contraindo-se consoante o movimento das
rochas, os meandros da água e o labor do caos.

curavam novas passagens numa zona isolada da
floresta tropical, enquanto a terceira, designada
por “equipa de ligação”, examinava mapas, pro-
curando locais onde diferentes sistemas de grutas
pudessem unir-se.
Até à data, o ritmo da descoberta fora lento e
o Santo Graal das ligações – o único que Frank
e Cookie sondariam mais tarde – escapara-lhes.
Andy reconheceu a sua desilusão, mas as suas
equipas já tinham descoberto mais de dez quiló-
metros de novas ligações.
Na manhã seguinte à minha chegada, juntei-
-me a ele e a uma pequena equipa que se dirigia
a uma gruta chamada Gua Nasib Bagus – Gruta
da Boa Sorte – onde se encontra a sobrenatural
Sala Sarawak. Acompanhado por outros explo-
radores britânicos, Andy descobrira esta gruta
e a câmara em 1981, seguindo um rio junto da
encosta de uma montanha.
Depois de escalarem, treparem e rastejarem rio
acima durante horas, os espeleólogos chegaram


Conceitos como “cima” e “baixo” ganham sig-
nificados mais subtis debaixo do solo, onde as di-
recções podem ser completamente invertidas ao
longo de milhões de anos. Se alguém estiver a ex-
plorar a parte de baixo da gruta, outro espeleólogo
poderá experimentar erguer os olhos. E olhar para
cima era a especialidade de Mad Phil.
Mad Phil era conhecido por escalar paredes
de grutas que ninguém tentara escalar anterior-
mente. Ele e Andy planeavam subir ao tecto da
Sala Sarawak, procurando túneis que o atraves-
sassem como passagens escondidas no tecto de
um palácio.

A CHUVA CAÍA enquanto serpenteávamos pela flo-
resta. Gradualmente, tornou-se mais grossa e
mais torrencial e o barulho abafava todos os sons
e conversas. Uma hora mais tarde, chegámos à
saída da Gruta da Boa Sorte, onde um rio emergia
de uma fenda situada no alto de uma parede de cal-
cário. Entrámos no rio e avançámos, com a água
quente e límpida a alcançar-nos a barriga das per-
nas, depois as ancas e, por fim, o peito.

OS HOMENS SAÍRAM ENCHARCADOS E CONFUSOS. TERIAM


Caminhado em círculos durante várias horas?


OU ESTAVAM PRESTES A FAZER UMA DESCOBERTA EXTRAORDINÁRIA?
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