National Geographic - Portugal - Edição 221 (2019-08)

(Antfer) #1
RAIAS-DIABO 67

de cem por cento e as capturas de atum aumen-
taram. Embora sejam necessários mais estudos,
o possível equilíbrio entre o homem e a natureza
desperta agora na linha do horizonte.


D


E VOLTA AO ARQUIPÉLAGO
atlântico do meu sonho, as
manhãs na ilha do Faial, nos
Açores, destinadas a longas
viagens com a empresa marí-
timo-turística Norberto Diver,
começam cedo e agitadas. A lotação do catamaran
está esgotada com doze pessoas oriundas dos quatro
cantos do globo determinadas a navegar em oceano
aberto para chegar a um local único no mundo.
“Encontros destes na natureza são um raro pri-
vilégio”, explica à plateia, durante o briefing de
mergulho, José Carvalho, biólogo marinho e guia
da empresa. “Além de fornecer experiências úni-
cas que, só por si, transformam mentalidades, é
também através de acções de sensibilização que o
ecoturismo contribui para a conservação ambien-
tal”, dirá mais tarde o biólogo.
Depois de uma hora a nadar sobre o topo de um
monte submarino, conhecido por Banco Princesa
Alice, os turistas emergem, estupefactos. Devido
às condições oceanográficas especiais, este oá-


sis da biodiversidade marinha atrai centenas de
móbulas nos meses de Verão. “Num só dia, che-
guei a ver cinquenta”, recorda, nostálgico, Nor-
berto Serpa, proprietário da empresa. Ao leme da
embarcação, confessa que gostaria que este local
fosse protegido das pescas. “Apesar de já não se
pescarem aqui raias-diabo, creio que o turismo
de observação de vida selvagem não é compatível
com locais onde se capturam animais.”
O ecoturismo marinho funciona como um im-
portante potenciador do desenvolvimento eco-
nómico mundial. Gera anualmente cerca de cin-
quenta mil milhões de euros em receitas, com a
participação de 120 milhões de turistas. Nos Aço-
res, o mergulho com tubarões e raias-diabo ren-
de todos os anos cerca de oito milhões de euros,
enquanto na Indonésia a mesma actividade com
mantas chega aos quinze milhões.
O período de transição até a nossa economia gi-
rar em torno de indústrias mais sustentáveis pro-
mete ser longo. No entanto, se o equilíbrio ecológi-
co do planeta se tornar uma prioridade na agenda
política de todas as nações, ver um dia Sanusi ilu-
minar o mar com as suas redes de pesca ou mesmo
vê-lo com um grupo de turistas na sua embarca-
ção, repetindo os mesmos gestos de José Carvalho
nos Açores, será uma evolução notável. j
Free download pdf