PARTILHANDOOCAMINHOCOMMIGRANTES 73Hoje, estou a atravessar a Índia.
As nossas vidas actuais, de tão sedentárias que
são, mudaram quase para lá do limite reconhecí-
vel desde a fase áurea dessas explorações pedes-
tres despreocupadas.
Ou será que não?
Segundo cálculos da ONU, mais de mil milhões
de pessoas (um em cada sete seres humanos ac-
tualmente vivos) migraram dentro dos seus paí-
ses ou atravessaram fronteiras internacionais.
Milhões fogem da violência: guerra, perseguições,
criminalidade, caos político. Muitas mais procu-
ram alívio económico longe dos seus horizontes.
Entre as raízes deste novo êxodo colossal, conta-
-se um sistema de mercado globalizado que des-
trói as redes de segurança social, um clima alte-
rado por agentes poluentes e ambições humanas
agravadas por ilusões potenciadas pelas informa-
ções transmitidas instantaneamente pelas redes
sociais. Em números simples, esta é a maior diás-
pora da longa história da nossa espécie.
Percorro 25 quilómetros por dia pelo mundo.
Misturo-me muitas vezes com os desenraizados.
No Djibuti, beberriquei chai com migrantes
em paragens lúgubres de autocarro. Na Jordânia,
dormi a seu lado em tendas poeirentas fornecidas
pela ONU. Escutei as suas histórias de sofrimento.
Retribuí os seus risos.A National Geographic Society, organização sem fins
lucrativos que desenvolve actividade em prol da conser-
vação dos recursos da Terra, ajudou a financiar esta reportagem.