Cláudia - Edição 695 (2019-08)

(Antfer) #1

120 claudia.com.br agosto 2019


NEIDE DE JESUS | POLÍTICAS PÚBLICAS


“Com a venda


da produção


de cerâmica


tradicional,


as mulheres


conseguem ter


uma renda extra”
NEIDE DE JESUS, líder comunitária

do governo estadual para estabelecer
o Centro de Produção de Cerâmica em


  1. Atualmente, cerca de 40 mulheres
    de diferentes gerações preservam a
    tradição do trabalho manual. “Antes, aqui
    no quilombo, as casas eram quase todas
    feitas de taipa. Ninguém vinha nos visitar
    e nós também não saíamos”, relata Neide,
    que já viajou a diversas partes do país
    para apresentar o trabalho de artesanato
    de suas companheiras. Agora, resistindo a
    tentativas de padronização, as cerâmicas
    atraem turistas e são vendidas também
    fora da comunidade, com renda revertida
    para as produtoras e suas famílias.


LIDERANDO UM QUILOMBO NO
MARANHÃO, NEIDE DE JESUS CAPACITA
MULHERES PARA GERAR RENDA POR
MEIO DO ARTESANATO

A comunidade quilombola de
Itamatatiua, a 70 quilômetros do centro
do município maranhense de Alcântara,
abriga cerca de 160 famílias. O povoado
se formou no século 18, quando a
Ordem do Carmo, que geria a produção
de cerâmica por escravos, saiu da
região e abandonou a população. Nas
terras pentencentes à freira carmelita
Santa Teresa de Jesus, Itamatatiua
prosperou e foi reconhecida, em 2006,
como remanescente de quilombo pela
Fundação Cultural Palmares – mas
ainda aguarda a demarcação de
território. Um relevante capítulo da
história da comunidade se iniciou na
década de 1980, quando morreu seu
então representante, o encarregado
de terras, e Neide de Jesus foi eleita a
nova líder, contrariando as convenções,
já que era solteira e mãe. Hoje com
70 anos, ela ainda é figura respeitada
na comunidade e por ela passam
quase todas as decisões tomadas ali.
Pouco depois de sua nomeação, a
maranhense criou uma associação de
mulheres para organizar as plantações,
promover melhorias e lutar pelos
direitos da comunidade. Hoje, esse
grupo é liderado por Alessiane de
Jesus, treinada por Neide. “Mesmo
eu estando fora para descansar, elas
continuam me consultando”, diz a
matriarca, que age como articuladora
e mediadora de conflitos. Produzida
no fundo dos quintais desde a
saída das carmelitas, a cerâmica de
Itamatatiua ganhou status com o
trabalho da organização feminina
local. As artesãs conquistaram o apoio
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