A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

A legenda explicava: “Na tarde de sexta, a princesa consorte Mary e sua dama de
companhia, Helena Brix Lehfeldt, tiveram tempo para se divertir no tradicional
parque de diversões”. Eva tornou a olhar para a foto. Helena era, se possível, ainda
mais bonita que a princesa consorte; parecia uma verdadeira rainha. Usava tailleur
creme e discretos sapatos de salto agulha. Em todos os sentidos, era uma mulher
mais jovem do que aquela que Eva tinha visto fazia apenas algumas horas na creche,
embora se devesse levar em conta que, mais cedo, ela estava abalada – por um
suicídio na esfera familiar mais íntima, o do próprio irmão.
Eva levantou o olhar e viu a mulher que, nesse instante, entrava na sala de espera.
Já a tinha visto antes, chamava-se Merete. Eva sabia disso porque os psicólogos
sempre chamavam os pacientes pelo primeiro nome ao abrir a porta. Merete tinha
cabelo curtinho e liso, tingido de escuro. As raízes brancas costumavam estar lá, à
espreita, mas não nesse dia. Nesse dia, Merete tinha acabado de tingir o cabelo,
fazer as sobrancelhas e pintar as unhas. “Ela deve estar melhor”, pensou Eva, com
uma pontada de inveja.



  • Oi – disse Merete.

  • Oi – sussurrou Eva, e voltou a baixar os olhos para revista. A página seguinte:
    mais fotos, agora num evento beneficente na Ópera de Copenhague, ao qual a
    princesa consorte comparecia com os filhos. A mãe de Malte estava sempre em
    segundo plano, pronta para se encarregar do pequeno Cristiano e da irmã. Eva
    tinha esquecido o nome da menina. Haviam ocorrido muitos nascimentos régios
    nos últimos anos, e aquilo nunca tinha sido sua área no jornalismo. Não que tivesse
    alguma coisa contra a Casa Real; simplesmente se mantinha a par apenas do que se
    referia à seção em que trabalhava. Na foto, Helena, a mãe de Malte, falava com um
    homem que estava a seu lado, tinha a mesma idade e apoiava uma das mãos no
    ombro dela. Seria o irmão? Aquele que tinha morrido?

  • Merete?
    Um dos outros psicólogos tinha aberto a porta. Eram três terapeutas a

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