Estação Hareskov, Grande Copenhague – 18h33
Eva desceu do trem junto com o pessoal de escritório – homens que usavam
terno, cansados, e mulheres que continuavam trabalhando a caminho de casa,
mulheres da classe à qual a própria Eva tinha pertencido já fazia muito tempo, antes
de terem precisado ficar de olho em sua percepção da realidade, antes de ter sofrido
uma possível psicose aguda, fosse isso lá o que fosse; na época em que Eva era parte
do motor do mundo, em que era uma das pessoas que mantinham em
funcionamento as engrenagens de que os políticos tanto falavam. Agora era
ajudante de cozinha. Era quem cozinhava para os filhos dos que mantinham as
engrenagens em funcionamento. A bem dizer, que mal havia nisso? Na hora da
verdade, quem era mais imprescindível?
Deixou-se levar pelo fluxo de pessoas que desceram do trem e entraram na
passarela subterrânea para chegar ao outro lado da linha férrea, onde ficava o
estacionamento e onde os cônjuges esperavam nos carros. Era ali que deveria estar
Martin, num carro da Volvo ou da Volkswagen, pronto para levar Eva para uma
casa aquecida com provas de vida por toda parte – lençóis usados, xícaras de café no
parapeito da janela, flores em jarros de vidro; para o lugar onde Eva achou que
sentariam juntos a contemplar o jardim, a luz que batia na grama, a roupa de
corrida de Martin na lavanderia. Eva se aproximou do ponto de ônibus e se
consolou com o pensamento de que havia outros que ninguém vinha buscar na
estação. Alguns também tomavam ônibus; outros pegavam a bicicleta no