Roskilde, Grande Copenhague – 9h47
Torpedo de suicídio. Eva, ao mesmo tempo que acelerava o passo até chegar a
correr, refletia sobre a ideia. Para ela, fazia muito sentido. Por que desperdiçar os
últimos momentos de vida redigindo compridas e rebuscadas cartas de suicídio,
com as quais os familiares não poderiam fazer nada senão chorar e guardar numa
gaveta poeirenta? Explicações longuíssimas não tinham serventia para ninguém. SMS
era coisa bem diferente. Breve, claro, preciso. “Sempre vou te amar.” “Não é culpa
sua.” “Toque a vida adiante.” Entretanto, por que o desenho de um assassinato? Por
que mudar numa foto o arranjo que a imobiliária tinha feito?
Eva se apressou ainda mais quando viu a creche. Queria estar um pouco
resfolegante ao chegar, para que os outros vissem que se aborrecia, sim, em estar
atrasada. Felizmente o caminho estava livre, exceção feita a um pai que saía naquele
momento.
- Oi – Eva se limitou a dizer, e recebeu um grunhido à guisa de resposta.
Subiu correndo para a cozinha. Será que estava muito atrasada? Verificou isso
checando o celular. Pouco mais de hora e meia. A porta da cozinha se encontrava
aberta. Sally estava de costas para Eva. - Bom dia – disse Eva.
- Ah, você está aí! Achei que tivesse ficado doente.
Sally lhe lançou um olhar rápido. Tinha as mãos cheias de massa de pão. - A Anna perguntou por mim?