O termo “Instituto” talvez fosse pomposo para os pequenos escritórios e salas de
aula daquele edifício de concreto. Eva tirou da bolsa a foto do site da imobiliária – a
imagem de uma sala de estar em Kartoffelrækkerne, um lugar onde se deveria ser
feliz. Só que não bastava isso para ser feliz. Christian e Merete Brix estavam no
meio de um processo de divórcio quando ele morreu.
A porta de um dos escritórios estava aberta. Havia um homem sentado de costas
para a porta, com o telefone ao ouvido e as pernas sobre a mesa, em cima de montes
de papel. Uma plaqueta dizia: “D. A. Weyland”. Eva bateu à porta.
- Com licença. O senhor está em uma ligação?
O homem se voltou. - Amor, eu torno a ligar – ele disse ao telefone.
Eva sentiu uma pontada de dor. Aquela palavra... Era a ela que deveriam chamar
de amor numa tarde qualquer de primavera; era ela que deveria estar pensando em
compras e outras trivialidades. De repente, desanimou, e o projeto lhe pareceu
absurdo. - Posso ajudá-la em alguma coisa?
Eva voltou à realidade. - O senhor é historiador da arte?
- Da última vez que olhei o holerite, acho que havia alguma coisa assim. Você
está no terceiro ano, não?
Eva colocou a cópia fotográfica diante do acadêmico, que olhou para ela. - Que baita vista. Você está querendo que eu compre? Acho que não posso me
dar a esse luxo. - O quadro na parede.
- Ah, entendi.
- O que é?
- Isto é parte da nova avaliação de qualidade dos docentes? – disse o historiador
da arte, que, pelo visto, era um engraçadinho.