A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1
Rico balançou negativamente a cabeça, e Eva se apressou em continuar:


  • Sei que não parece grande coisa, mas acredito no menino. Ele já sabia antes de
    todo mundo que o tio estava morto, antes de a mãe ter vindo pegá-lo na creche...

  • E o que eu ganho com tudo isso? – disse Rico, interrompendo-a.

  • Você fala do quê?

  • Imagino que você queira persistir nessa história se ela tiver mesmo substância.
    Coisa em que, a propósito, não acredito. Sendo assim, eu ganho o quê?

  • Pode ser pelos velhos tempos?
    Rico tornou a sacudir negativamente a cabeça. Ficou pensativo durante um
    tempo. Eva percebeu que estava acontecendo alguma coisa com ele. Alguma coisa
    em seu íntimo. “O quê?”, teve tempo de pensar antes que ele, de repente,
    perguntasse:

  • Você se lembra das nossas saídas? – Sua voz também tinha mudado. Surgiu a
    raiva, certa amargura.

  • Århus by Night?[8] – disse Eva, na tentativa de esvaziar de tensão o assunto.

  • Você era sarrista: atiçava a gente, mas não dava. Lembra?
    Eva resolveu engolir o sapo. Rico, magoado e furioso, lhe lançou um olhar feio e
    continuou:

  • Paquerava todo mundo. Até a mim.

  • Mas, Rico...

  • Você progrediu depressa na carreira graças à aparência, à beleza – ele disse,
    insistente, interrompendo-a. – Se conseguiu aquele baita estágio, foi porque sabia
    paquerar. Quer saber o que você faz? Você usa a xoxota de isca.

  • Rico!

  • Pode ir embora se não quiser ouvir o que estou dizendo.
    Eva deveria ter ido embora, em vez de ficar ali sentada, de cabeça baixa.

  • Já pensei muito no que acontece com vocês, mulheres bonitas.

  • Olha que eu nem sou bonita!

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