Rico parou. Estavam frente a frente.
- E eu ganho o que fazendo isso?
Eva precisou fazer força para falar. - Você disse que eu só atiçava. Lá atrás, no...
Eva se dava conta de que não conseguia se expressar, talvez porque não soubesse o
que dizer. Mas Rico sabia. - E agora quer consertar isso?
Eva fez que sim. - Oferecendo a mercadoria para valer?
Eva não respondeu. Pensou em Martin, morto no caixão. Pensou nas flores na
igreja, no uniforme de gala no armário de casa, na vida dela, destruída. Aquilo que
vinha reprimindo com tanta habilidade, o back to the fucking future e a merda toda
que a psicóloga dizia – Rico tinha destroçado tudo isso em trinta segundos. - Você fala sério? Está me oferecendo a xana?
Rico riu, balançando negativamente a cabeça.
Eva assentiu e pensou: “Nunca”, torcendo para que ele não percebesse. - Então, como ficamos?
- Você desbloqueia o celular, e vamos para a cama.
- Você está muito mal. Sabe disso, não sabe?
- Mais do que você imagina.
Rico continuava a encará-la. Ele tornou a fazer que não com a cabeça, agora de
leve. - Preste atenção. Você agora vai enfiar a mão na bolsa e tirar o celular. Enquanto
isso, a gente continua conversando, e você fica olhando para mim. Depois você me
abraça. Quando eu puser a mão na sua bunda, você deixa o celular cair no bolso do
meu paletó. Entendeu tudo direitinho? - Estão seguindo a gente?
- Nunca se sabe. Fizeram muito auê com o caso da gangue de motoqueiros. O