Asger olhou para ela, surpreso. Eva continuou:
- Vocês não conseguem entender o que eu sinto. Ninguém que não tenha
perdido um ente querido vai entender. – Ele ficou vermelho, mas Eva não desviou
o olhar. – Preste atenção. Eu perdi tudo. Perdi o meu marido. - O seu namorado – apressou-se Asger Christensen a corrigir. O rubor nas faces
dele estava diminuindo. - Nós compramos uma casa, que droga!
- Eu sei. E só se tivessem ido morar juntos...
Ela o interrompeu. - Tínhamos que ajeitar a casa antes. Qual o problema?
- Você entende por que as regras são do jeito que são? A indenização vai para a
esposa legal, para a pessoa com que se tem relação estável ou para os parentes mais
próximos, nessa ordem. Você não se enquadra em nenhum dos casos. - Tínhamos comprado a casa juntos. A gente tinha rescindido os contratos de
aluguel. - Eva... – Asger Christensen suspirou. E se reclinou na cadeira. – Imagine se
qualquer mulher pudesse fazer exigências quando um militar morre em serviço. - Não! – Ela se calou e olhou para os próprios punhos, cerrados, prontos para o
combate. – Tínhamos comprado uma casa – continuou, mais ou menos serena. – E
não sou qualquer mulher. Nós dois assinamos o contrato de compra. Achamos a
casa três dias antes de ele partir. Era a casa dos nossos sonhos, que droga! - Pena que vocês não se casaram.
O trem de subúrbio entrou no túnel, e Eva flagrou o próprio reflexo na janela. O
que viu? Uma mulher furiosa. É, foi isso o que viu. Uma mulher magoada, mas, ao
mesmo tempo, uma mulher que irradiava determinação e força de vontade. O que
mais Rico tinha dito? Que era bonita mas carecia de talento. “Que se foda! Fodam-