Hareskoven, Grande Copenhague – 20h35
- Com licença?
Tinha acabado de enfiar a chave na fechadura quando ouviu a voz, que vinha de
algum ponto atrás dela. Um homem de cabelo branco e idade avançada havia
parado na calçada. Levava um bassê pela coleira. - Parece-me que nunca fomos apresentados – disse, com entonação elegante, um
pouco afetada, de uma época em que as coisas tinham estado perfeitamente em
ordem. - Não. – Eva deixou a bolsa no chão.
O homem se aposentara fazia tempo, mas era atraente e estava em forma; naquela
área, todos estavam, pensou Eva. Era assim que tinha imaginado a vida com Martin,
uma vida ordenada, sã, bela. - Meu nome é Jørgen Lauritsen – disse o homem. – Moro no número 16. Sou
aquele da casa cheia de rododendros. - Ah, sim! – disse Eva, e se apresentou.
- Você já se aclimatou aqui? – ele perguntou, e a olhou com uma curiosidade
sincera. - Bem, mais ou menos. Há muita coisa para fazer ainda. – Eva olhou para a casa.
- Nem sei mais o que dizer. É muita coisa mesmo.
- Posso ajudar em alguma coisa? É só dizer.
- É muita gentileza sua, mas não tenho como...