nos tirar desta situação com vida. E aqui estamos nós. Estamos com as mãos
manchadas de sangue. O que quer que a gente faça, só vamos sair desta lutando. Se
a gente se rende, se a gente senta aqui no acostamento ou se a gente simplesmente
vai para casa, o inimigo nos acha.
David parecia a ponto de dizer alguma coisa, mas desistiu.
- E quem é o inimigo? Neste momento, é ela. Se deu o celular para alguém, já são
dois inimigos. Se conseguiram desbloquear e mostraram para mais alguém, já são
vários. Olhe para mim, David!
David obedeceu. - Quantos inimigos você está disposto a encarar para sobreviver?
- Não sei.
- E estamos falando da sobrevivência do quê?
- Da Instituição.
- A sobrevivência da Instituição e a nossa. Somos nós e a Instituição. Quantos
inimigos? Só me diga, para que eu saiba. Nenhum? Um, dois, cinco?
David fez um gesto de desânimo. - Incluídos os dois primeiros?
- É, incluídos. De quantos inimigos você está disposto a se desfazer para
continuar vivo? Eu preciso saber.
Silêncio no furgão. Marcus conseguia ouvir a própria respiração. - Saia do carro – ordenou a David.
Olhou para o velho amigo. Marcus sabia que David tinha chegado ao ponto em
que preferia perder a vida a tirar a de outros. Marcus tinha observado isso antes, no
deserto, em soldados que desabavam sob o peso da responsabilidade, a
responsabilidade pela vida e pela morte que se tinha assumido para, literalmente,
mudar o mundo. Pôs a mão no ombro de David. - Eu falo sério. Saia do carro, soldado.
- Não, eu consigo.