- Todos somos – disse o policial mais velho, e os dois riram. Ele voltou a ficar
sério. – É um velho portão de jardim, foi só o que eu quis dizer. A madeira está
ligeiramente apodrecida. É fácil entrar para roubar. - Você mora sozinha? – interveio Søren, o mais moço.
- Moro. Meu marido morreu.
- Sinto muito. Hoje não é mesmo o seu dia, é?
Eva riu. Um riso demasiado sonoro e prolongado, sabia, mas o choque é assim
mesmo, chega uma hora em que não resta outra coisa senão rir para não chorar. E
não tinha necessidade nenhuma de chorar; vinha chorando já fazia meses demais. - Você tem algum...? – O policial mais velho hesitou. Depois resolveu perguntar,
do mesmo jeito. – Você tem algum inimigo? - Não.
- Então, por que diz que eles estavam procurando alguma coisa específica?
- Não sei. Só sei que, de certa maneira, tudo pareceu tão... profissional.
- Os ladrões costumam ser – disse Søren. – Os assaltantes de residências vivem
disso. Vigiam os endereços de casais idosos ou de mulheres solteiras e, às vezes, as
casas um pouco afastadas. No ano passado... – Olhou para o colega. – No ano
passado, houve cinco assaltos a residências aqui em Hareskoven. - Cinco? – disse Eva, sem saber bem se era muito ou pouco.
- Você disse que acha que eles voltaram porque tinham esquecido alguma coisa?
- É. Um deles deixou algo na mesa de centro. Alguma coisa pesada.
Os dois policiais olharam para a mesinha. - Talvez uma lanterna – sugeriu Eva.
- E você acha que voltaram por causa disso?
- Acho.
Os policiais tornaram a olhar um para o outro. Eva maldisse a si mesma. Por que
tinha dito que eles pareciam procurar alguma coisa específica? Søren pigarreou. De
repente, parecia cansado.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1