No trem para Roskilde, Grande Copenhague – 7h32
Eva Katz estava sentada no vagão, folheando um desses jornaizinhos gratuitos, e
quase se esqueceu de fazer a baldeação. O lenço de seda que estava usando no
pescoço ficou a ponto de se enganchar na porta quando saltou para a plataforma.
Que lindo teria sido se o lenço que tinha posto para esconder as marcas no pescoço
lhe tivesse causado a morte! Começou a rir: primeiro quase asfixiada, depois
enforcada num trem regional para Næstved, arrastada pelo pescoço na via férrea,
como um cão. Eva ria, e as pessoas que passavam deviam achar que não estava
batendo bem. Um homem sorriu para ela. Aquele riso desenfreado não dava sinal
de parar. Entre um e outro soluço, pegou o celular e o aproximou do ouvido. Assim,
parecia que estava rindo de alguma coisa que lhe diziam. Na mesma hora, começou
a receber olhares mais compreensivos. “Se eles soubessem!...” Estava mesmo
maluca. Sabia disso. Conseguia ver a si mesma, tal qual acontece a quem sofreu
algum acidente de trânsito – no carro há três pessoas despedaçadas, e a sobrevivente
está engatinhando no asfalto, com sangue na cara, sem parar de dizer: “Não estou
achando a presilha de cabelo”. Sofria desse tipo de loucura, de choque, de colapso.
Tantos nomes diferentes para a mesma coisa.
Quando Eva atravessou a creche e entrou na sala dos funcionários, tornou a
pensar em acidente. Tinha acontecido alguma coisa horrível, e todos corriam de um