quanto é lado. A gente se vê no mesmo lugar que da última vez.
- No bar?
- Pelo telefone não. Você sabe muito bem onde a gente estava. Vamos começar
por aí. O mesmo lugar, o mesmo horário, e aí eu digo para onde a gente vai. – Ele
riu. – Você disse que ficaria pelada na minha sala ou fui eu que sonhei com isso? –
Rico desligou sem se despedir.
“Às oito e cinquenta e dois da manhã”, disse Eva para si mesma. “A hora em que o
suicida manda a última mensagem para a irmã, antes de estourar os miolos.” Havia
algo que não se encaixava, ou pelo menos era a sensação que tinha, como quando
sentimos que esquecemos algo mas não sabemos o quê.
Entrou na Sala Verde, onde estava a agenda com encadernação de tecido, em que
os pais registravam a chegada dos filhos pela manhã. Folheou o livro. Procurava
algo sobre Malte, algo sobre...
Faltava uma folha – a de segunda-feira. O primeiro dia de Eva. O dia em que
Malte tinha feito o desenho. A borda das folhas estava ligeiramente desbeiçada.
Alguém tinha arrancado aquela. Por quê? Eva olhou todas as folhas. Era a única que
faltava. Por que tinham arrancado logo a de segunda-feira? Para que ninguém
soubesse o horário em que Malte tinha entrado naquela manhã? Mas por que isso
era tão importante?
Tornou a ouvir a voz de Rico: “Às oito e cinquenta e dois”, a hora em que a
última mensagem foi enviada, as últimas palavras de Brix nesta vida. Mas quando
foi que Malte fez o desenho? Quando foi que Eva detectou o medo no olhar do
menino? Onde aquilo se encaixava...?
O telefonema do pai de Eva. De repente, ela se lembrou. Correu a checar no
celular as chamadas perdidas. O pai tinha ligado e deixado mensagem logo depois
que o menino fez o desenho. Eva se lembrava. Lembrava-se de que não tinha
atendido. Lembrava-se de que Kasper a avisara de que não podia ficar com o celular
ligado nas salas de aula. Às oito e quarenta e seis; fora esse o momento em que o pai