A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

tentado desbloqueá-lo, e que depois, quando foi à casa de quem a ajudava nisso,
encontrou-o com uma bala na testa, debaixo de um edredom? Em muitos sentidos,
seria sem dúvida o mais correto. Colocar as cartas na mesa. Por outro lado, como
encarariam o furto em seu novo emprego? Uma pergunta desprovida de sentido,
pois já sabia a resposta – seria mandada embora. Isso era óbvio. Em creche, não se
pode ter funcionária que afana as coisas dos pais das crianças. Também a
condenariam judicialmente por aquilo? Aplicariam multa? Não tinha ideia, mas
sabia que a última coisa que precisava era de antecedentes criminais para
acompanhar o perfil, já bem carregado, que a psicóloga tinha elaborado. Psicose
aguda. Ladra. Como ia arranjar emprego de novo?
Passeou pela margem dos lagos de Copenhague, dobrou à esquerda e cruzou a
Ponte Rainha Luísa, sem rumo, sem outro propósito além de evitar voltar para casa.
Entrou na Nørrebrogade. Mais táxis na avenida. Um bêbado cantando no meio da
rua. Eva começava a sentir frio. Entrou num bar. Pediu cerveja e sentou a uma
mesa. Isso a reanimou um pouco. Precisava sumir. Era a ideia que tinha mais
presente na cabeça. Sabiam onde morava. Voltariam lá. Por isso, ficaria algumas
horas mais, sentada onde estava. Esperaria até amanhecer. Aí pegaria o primeiro
trem de subúrbio para Hareskoven. Iria para casa, faria a mala e sairia correndo.
Para longe. O plano era esse. E depois? O que faria depois? Como conseguiria
seguir em frente? Com que podia contar?



  • O Malte.
    Surpreendeu-se ao ouvir a própria voz. Mas a voz tinha dito a verdade – Malte,
    um menino de apenas cinco anos, era a única coisa com que podia contar. Os olhos
    de Eva depararam com um relógio de parede. Já era muito tarde, ou muito cedo,
    dependendo do ponto de vista. Tinha que ir trabalhar. Lá onde Malte estava. Não
    podia chegar muito tarde, não podia dar-se ao luxo de perder o emprego, que era
    seu único acesso às respostas que procurava.

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