arrancado pela raiz. Avançou para eles. Marcus destravou o fuzil automático. Os
talibãs não se importavam de sacrificar uma criança de cinco anos, envolvê-la em
explosivos e mandá-la contra soldados ocidentais com uma flor ou um pouco de
pão, alguma coisa inocente, uma arapuca. Depois detonavam a bomba de longe.
Davam gritos de júbilo lá do morro onde tinham se escondido e de onde podiam
ver de binóculo todos os soldados mortos, como se fosse um videogame. Marcus o
havia avisado do perigo quando David foi ao encontro da menina. Mas David não
deu importância. Aceitou a flor. A menina o abraçou. Falaram sem entender a
língua um do outro. Ninguém voou pelos ares. Não até o dia seguinte, quando um
grupo de soldados ingleses morreu. E também a menina.
Marcus sentou diante de David. Deixou a bala na mesa de vidro. A bala rolou
tranquilamente pelo tampo até David. Marcus fechou os olhos e escutou o tilintar
inocente. Metal contra vidro; poderia tratar-se de alguma moeda, de uma dessas de
cinco coroas que passam de mão em mão. Por um instante, pensou em sorvetes e
doces, em coisas que se podiam comprar com cinco coroas quando ele era pequeno.
Depois abriu os olhos e olhou para David.
- Não há nada que aponte para nós – disse Marcus. – Verificamos o lugar todo.
Foi um bom trabalho.
David sacudiu negativamente a cabeça. - Trabalho – repetiu.
- Você talvez devesse tirar uns dias de férias. Pedir licença médica.
- E ela? E Eva Katz?
Marcus olhou para ele. Sabia muito bem o que David queria ouvir – que não era
necessário que ela perdesse a vida, que já podiam parar de matar. Sorriu para o
velho amigo. - Vejo que está sendo difícil para você. No momento, você só enxerga o que
fizemos ontem. O último olhar do jornalista. Não foi nada divertido, é claro. - Eu nunca tinha visto ninguém que tivesse tanto medo de morrer. E você?