aqui na creche: nada de esquecer criança, nada de esconder nada.
- Nada de esconder nada – repetiu Eva, ainda sem ter certeza de que havia
entendido a lógica daquilo tudo. - A gente se vê na reunião, então. Tenho confiança em você.
- Obrigada.
Kamilla saiu e a deixou com uma série de incógnitas, mas Eva estava sobretudo
aliviada, porque não iam demiti-la, ao menos não por ora. Depois concluiu que,
daquela maneira, o sistema protegia a si mesmo. Sim, é possível que haja chefes que
tomam decisões tão erradas que chegam a pôr em dúvida o próprio sistema. Será
que é mesmo sensato transferir a responsabilidade por crianças pequenas a
desconhecidos, a um sistema? Cedo ou tarde, todos os sistemas têm panes;
qualquer instituição acaba se esquecendo de alguém; mas algumas verdades são tão
constrangedoras que não conseguimos conviver com elas. Então é melhor nos
desfazermos do sistema, do líder, e deixar que subsista a raiz do problema, junto
com nossa fé cega. Balançou negativamente a cabeça, pensando em Rico. O que ele
teria dito?
A grande reunião estava demorando para começar. Era complicado colocar na
sala coletiva tantas crianças e adultos. Alguns auxiliares tinham ficado nas salas de
aula com os menorzinhos – esses funcionários eram os chamados objetores de
consciência, os que ocupavam o escalão inferior da creche. Assim são as coisas: se
você não quer defender a pátria, vai ter de cuidar de bebês. Como se isso fosse
castigo. Sendo assim, podiam-se deixar as crianças no mato, ora.
Fazia calor, e o cheiro que Eva tinha tido tanta dificuldade para aguentar no
primeiro dia voltou, o odor de muita criança junta. “Por que as crianças maiores
estão participando da reunião?”, estranhou Eva, enquanto procurava Malte com o
olhar. Kasper estava sentado com a garotada da Sala Verde. Eva talvez pudesse