Eva falava em voz baixa. Percebeu que tinha conseguido a atenção de Malte; a
palavra “mentira” tinha desencadeado alguma coisa. – Mentira, entendeu? Mas
você já sabe disso, não é verdade?
O menino enfim disse algo, baixinho, quase para si mesmo.
- Preciso ir.
- Você não vai até me contar o que viu naquela noite...
- Vão enterrar o meu tio – disse Malte, interrompendo-a.
- É o que acontece com todo mundo quando morre.
- Não quero ir.
- Não quer ir? Hoje? O enterro é hoje?
- E se ele for também?
- Quem? Olhe para mim, Malte. É muito importante que você diga a verdade
para mim. Senão, não vou poder ajudar você.
Uma voz veio de trás: - Malte?
Eva ergueu os olhos. Helena a encarou, com um olhar frio que combinava com o
elegante vestido preto e os óculos escuros. “É”, pensou Eva. “Está vestida para o
enterro.” - Venha cá, Malte.
Malte ficou em pé. - Parece que vocês dois ficaram muito amigos – disse Helena.
- Malte estava um pouco triste porque hoje vão enterrar o tio.
Helena deu mais uns passos calmos e se aproximou de Eva. Era a primeira vez que
Eva a via de tão perto, a cútis delicada, a sombra azul-escura, os lábios que, apesar de
tudo, talvez não fossem inteiramente naturais. Era bonita demais. - Não quero você perto do meu filho. Entendeu?
Deu-lhe as costas e foi embora.