O rapaz se voltou e olhou para Anna. Raspara o cabelo todo e tinha os olhos
muito juntos, num rosto envelhecido, com bronzeado artificial. Frank não disse
nada.
- Bom dia, Frank. Achei que já tínhamos conversado sobre o seu cachorro.
Frank se levantou. Uma tatuagem rastejava por suas costas, e no pescoço surgia a
ponta da cauda de um escorpião. Eva imaginou que o resto do escorpião estivesse
debaixo do moletom com capuz. - O seu cão de rinha. Ele está sentado em frente à grade.
- Qual é o problema? – Frank olhou para Anna sem piscar.
Eva deu um passo atrás, para a porta. - Já falamos sobre isso. Os cães precisam estar com coleira e não podem, de
maneira alguma, permanecer nos limites da creche. - Não é cão de rinha. O Sr. Hansen não faz nada se não provocam.
- O seu cachorro tem que estar na coleira e fora do terreno da creche – repetiu
Anna, impávida, apesar de Frank já ter avançado e invadido o espaço mais pessoal
da subdiretora. - Por quê? Qual é o problema? Ele mordeu alguém?
- Simplesmente porque sim. Já expliquei a você várias vezes. Os pequenos se
assustam. Os adultos se assustam. E eu também tenho medo do seu cachorro,
Frank.
O homem não disse nada. Durante alguns segundos, ele a olhou fixamente, com
semblante frio e inexpressivo. Anna desviou o olhar para Eva e encontrou forças
para esboçar um sorriso. Eva não teve certeza, mas talvez houvesse medo, ou pelo
menos insegurança, no olhar de Anna. - Quero que você leve o cachorro embora agora mesmo. Senão...
A bufada de reprovação que veio de Frank a interrompeu. Foi o único som a sair
da boca do homem do escorpião, que deu uma palmadinha na cabeça da filha e
deixou a sala. Mie pegou a menina nos braços e tentou consolá-la, mas não