do pernoite. Havia câmeras? Em caso de apagão, estas recorriam a nobreak, e, sim,
funcionavam no escuro quando necessário. Marcus se permitiu parar um instante
para lançar um rápido olhar à entrada. Não viu câmera nenhuma, mas as de
segurança só poderiam estar na recepção. Saiu para a via. O ar estava fresco, parecia
conter um débil vestígio dos últimos estertores do inverno. Ouviu-se uma sirene em
algum lugar. O pânico estava se desencadeando, e mais de uma pessoa aproveitaria a
oportunidade para, ao abrigo das sombras, quebrar a vitrina de alguma loja e levar
um televisor ou computador. Da última vez que tinha havido apagão noturno na
capital, o número de furtos disparou. Marcus pensou em Eva, em sua pele clara,
seus olhos; não devia fazer isso, tinha que se concentrar no que era importante.
Nova Orleans, 2005: chega o furacão. Vinte e quatro horas depois, a cidade está
mergulhada na anarquia, os habitantes em guerra uns contra os outros... A
civilização é só uma casca de ovo, uma camada fininha de verniz...
Trane:
- Marcus?
- Aqui – sussurrou.
- A comunicação está perfeita. Eu só queria checar.
- Estou vendo a melhor maneira de entrar. Não pode ser pela entrada principal.
- Deve haver outra.
- Esta porta aqui – disse Marcus, e se aproximou dela. A entrada de serviço,
talvez? - Só um momento.
Marcus ouviu os dedos de Trane pressionarem as teclas. - É, aí é o estacionamento. O hotel também tem escada do lado de trás.
Marcus foi até lá. Não viu câmera nenhuma perto da porta, só o luar tênue que se
refletia nela. Ótimo. A escuridão facilitava as coisas. Atravessou a soleira, passou
entre dois carros e, de fato, chegou ao pátio traseiro do hotel. - Ela está a uns dez metros de altura – disse Trane. – Isso seria o quê? O terceiro