tinha negligenciado tantos anos antes porque ficara brava, porque se sentira
ofendida?
- Eu vim por causa de um desenho.
- Desenho?
- De um homicídio – disse, e explicou.
Falou da dama de companhia, do desenho de Malte, do horário que não batia, de
Malte saber do assassinato do tio, o ruivo, antes que este tivesse morrido. Eva
mostrou o pescoço, ali onde o barbante lhe tinha cortado a pele, e contou do
assassinato de Rico. - O Rico? – disse Lagerkvist, interrompendo-a.
- É.
- Eu achava que tinham sido as gangues de motoqueiros.
- Não. Tudo gira em torno desse Christian Brix. Você o conhecia? Você escreveu
sobre ele.
Uma pausa rápida. Talvez estivesse pensando. Talvez não tivesse escutado a
última coisa que Eva disse. Então Lagerkvist fez que sim. - Mas já faz muito tempo. Acho que topei com ele em Bruxelas uma vez. Será que
foi isso? - Foi. Você o citou. Ele era membro de uma espécie de lobby, o Systems Group.
- Systems Group?
- É.
- Isso aí pode ser qualquer coisa. Bruxelas, que lugar de merda! – Lagerkvist quis
rir, mas teve um acesso de tosse. Pigarreou; parecia nauseado. – Agora escute: a
União Europeia. Está me acompanhando? - Não sou uma idiota total.
- OK, mas agora preste atenção: 25 de março de 1957. Jean Monnet, Robert
Schuman e os outros pesos-pesados que fundaram a União Europeia vinham
lutando desde a Primeira Guerra Mundial para criar os Estados Unidos da Europa.