do quarto ao lado.
- O trabalho que a gente faz se parece, em muitos sentidos, com aquele que a
polícia faz, ou pelo menos deveria fazer – continuou Lagerkvist. – Com uma
grande diferença: a gente precisa escrever, e eles, prender. Tenha sempre presente o
texto. Comece tendo uma manchete quanto antes. Que matéria você está
escrevendo?
A pergunta era retórica? Pelo semblante dele, Eva não conseguia dizer com
certeza. - Vamos logo! Eu estou morrendo!
- O que tenho que responder?
- Que tipo de matéria é?
- Reportagem sobre um homicídio?
- Qual a manchete?
- É muito cedo. Não sei ainda.
- Tem razão. É muito cedo. Mesmo assim, você precisa ser capaz de visualizar os
contornos da matéria o tempo todo. Precisa ter uma ideia da manchete, do estilo, já
imaginar isso. Você está me entendendo? - Estou.
- Jornalista é preguiçoso. Olhe para o fundo do coração. Descubra se é preguiçosa
ou não. Se prefere voltar para casa às cinco da tarde e fazer a janta dos filhos. - Não tenho nada disso. Não existe mais coisa nenhuma.
- É um bom começo. A preguiça é a maior inimiga do jornalismo. Você talvez
tenha uma matéria que a obrigue a olhar o censo de Copenhague de cabo a rabo
para encontrar este ou aquele fulano. Talvez precise telefonar para todos os sujeitos
de um mesmo sobrenome, ainda que seja o sobrenome mais comum que há. Invista
cinco dias inteiros nisso, faça mil ligações para nada. Mas vá em frente. Não desista.
Você tem que entender que o que está procurando é a tal da agulha no palheiro. O
insólito, o excepcional, no meio de tudo que é comum, corriqueiro. No caso de