Este se voltou. Marcus não tinha muita coisa para contra-argumentar; estava
consciente disso. Tinham posto Trane “a par”, e tudo o que Marcus tinha feito até
então estava ruim.
- Acho que você tem razão – disse Marcus, ao mesmo tempo que procurava
palavras capazes de impor sua vontade. Mas qual era a vontade dele? Recuperar o
emprego? Porque, na realidade, era disso que se tratava; Marcus estava fora, e Trane
tinha assumido o comando, ou... - O que você tem em mente?
- Acho que a gente foi longe demais com aquela mulher.
- Longe demais?
- Não precisa colocá-la fora de combate. Uma conversa deve bastar.
Trane sorriu. - Você pirou mesmo, hein, chefe?
- Não, essa é a minha avaliação profissional.
- OK, anotado – disse Trane. Saiu e fechou a porta. Marcus viu que o outro
trocou algumas palavras com o médico, do outro lado da vidraça, e que depois
sumiu de vista.
Precisava levantar-se, sair dali. Por quê? O que tinha que fazer? Sua cabeça não
estava de todo boa, mas ele sabia que havia alguma coisa que precisava fazer. Matá-
la. Ou salvá-la. Olhou para a própria mão. O dedo que, naquela noite, tinha
tomado certas liberdades na casa dela. O mesmo dedo que tinha se recusado a
apertar o gatilho. Levantou-se. As dores nas costas eram lancinantes. Não eram
mais que dores musculares, disse a si mesmo; luxações. Não tinha nenhuma fratura;
nenhuma bala tinha atravessado tecido e órgãos. Quase caiu a caminho da janela.
Agarrou-se a ela e tombou de joelhos. O soro desabou lá atrás, e a agulha disparou
para fora do braço. O sangue começou a brotar. Tentou endireitar-se. A cabeça
doía. Olhou para fora. Era dia. As pessoas iam e vinham do hospital. Um táxi parou
na entrada. Desceram duas mulheres. Uma delas se parecia com Eva.