A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

Jogou o cigarro pela janela. Pegou as anotações. Leu: “Local do crime. O auxiliar
de Rico: é ele que sabe o que havia no celular? Malte: testemunha do crime?”
Acrescentou: “O quadro: Metternich? Barbara von Krüdener? As duas flechas: o
que significam?” De repente, teve uma ideia. Por que não solicitava à imobiliária
uma visita à casa de Brix, tal qual sugeriam na parte inferior do anúncio? Claro! Era
tão óbvio. Afinal, era preciso vender a casa; tinham que tê-lo feito antes até da
morte de Brix, e agora aquilo era ainda mais urgente.


Na cozinha do abrigo, o sofrido computador cheirava a lágrimas, a sal. Diante
dele, mulheres tinham sentado para chorar ano após ano enquanto liam seus e-
mails ou verificavam as contas bancárias para concluir que a vida delas era uma
merda. Primeiro tinham apanhado do marido; e, depois da fuga, os homens
continuavam naquela interminável campanha de agressão, perseguindo-as física e
digitalmente, mandando mensagens cheias de ódio, sacando o dinheiro das contas,
espalhando mentiras.
A internet. O site da imobiliária. Durante alguns segundos, deixou que o cursor
apenas pairasse sobre “Solicitar visita”, nervoso, trêmulo; não se dava conta, mas
milhares de impulsos percorriam a mão de Eva e se transmitiam ao mouse. Estariam
vigiando quem solicitava visita? Não. Era loucura. “Por mais que persigam você,
não fique paranoica.”
Clique. “Visita agendada para domingo às dezessete horas.” Amanhã? Isso; 14 de
abril. Novos campos por preencher. “Nome.” “Endereço.” Eva se fez passar por uma
tal de Birgitte, que morava na Nørrebrogade, e clicou em “Enviar”.

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