Eva. – Porque o meu instrumental está aqui, ora bolas – ele resmungou.
- OK – disse Eva, e desligou.
Eva juntou coragem. Atravessou a rua e se aproximou do número 22. Leu os
nomes no porteiro eletrônico. Terceiro andar. Considerou que podia também ficar
onde estava, esperando até Beatrice sair para tomar o sol de primavera. - Oi?
Ouviu uma voz de criança no porteiro eletrônico. Quando é que Eva tinha
resolvido tocar a campainha? - Ah, oi. A Beatrice está?
Não houve resposta, só o ruído da fechadura ao se abrir com um leve suspiro
eletrônico.
Antes de subir a escada, Eva pensou: “Não posso ficar deixando rastros pelo
caminho; agora sou um submarino, submerso, invisível”. - Bom dia!
Eva baixou os olhos ao cruzar com o vizinho bastante jovial que a cumprimentou. - Bom dia – respondeu entre dentes.
Mais um andar. A porta estava aberta. Sons histéricos de desenho animado no
interior do apartamento. Beatrice Bendixen apareceu à porta com fisionomia
assustada. Olhou para Eva. - Beatrice?
- A gente se conhece?
- É sobre o Rico – teve tempo de dizer antes de uma menina aparecer ao lado da
mãe. - Quem é? – perguntou a menina.
- Por favor, filhota, fique só um momentinho lá na sala. Só dois minutos.
A menina obedeceu, mas olhou para Eva por cima do ombro, com evidente
curiosidade. Beatrice tentou aparentar não entender, estar confusa, mas era péssima
atriz.