que alguém da realeza compareça. É o exame de admissão que você faz. São uns
anos até você conseguir acabar a prova. Se vai passar ou não, depende do seu grau de
fidelidade. Você, devagarzinho, vai subindo os degraus. É um processo natural;
quanto mais alto você chega, na sociedade, mais fica integrada no círculo do poder.
Através dele, dos contatos que você faz, vai ganhando mais influência. A fidelidade
é o que conta. E, nessa subida, você nem sequer se pergunta se aquilo está certo, se é
daquele jeito mesmo que as coisas deveriam ser. Então, como é que vamos
conseguir mudar o sistema algum dia? E as decisões que são tomadas, são tomadas
levando em conta também o povo? São para o bem comum?
- Mas você fez isso?
- Fiz o quê?
- Questionar-se. Quando trabalhava na Billed-Bladet e tinha um pé lá dentro.
- No começo, não. Não, você não faz isso. Fica seduzida, cativada. Quando sai da
primeira festa de verdade com a rainha e o príncipe herdeiro, você já está fisgada.
Até os chefes de redação, até os artistas, gente normalmente muito capaz de pôr a
boca no mundo, ficam sentadinhos, obedientes, como cachorrinhos. Comigo foi
igual. De repente, você está à mesa com um herdeiro da Mærsk de um lado e um
subsecretário de Estado do outro, um cara que, na véspera, apertou a mão do
Obama. - Mas?
- Mas aí conheci um homem. Tivemos um relacionamento, e fiquei morando
uns anos nos Estados Unidos. Fiquei longe um tempo. E a distância influencia.
Comecei a pensar do jeito que jornalista deve pensar, mas que ninguém pensa. - E pensou o quê?
- Que a Dinamarca é mais monarquia do que democracia. Ao contrário do que as
pessoas por aí costumam achar. - Mas a legislação... – disse Eva, antes de Tine, balançando negativamente a
cabeça, interrompê-la.