A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

estava segurando o pano contra o carro, mas não conseguia parar de olhar para Eva.
Continuou assim quando ela subiu a escada de entrada da casa ao lado e tocou a
campainha. Passado um momento, a porta se abriu, e Eva deu com o olhar tão
apático quanto desconfiado de um adolescente que estava com o skate debaixo do
braço e passava a nítida impressão de achar a vida um suplício.



  • Oi – disse Eva. – Seu pai ou sua mãe estão?

  • Meu pai foi viajar, e minha mãe está trabalhando.

  • OK, mas... – disse Eva, hesitante. – Não é nada importante. Tchau.
    Viu que o garoto estava saindo de casa, mas ela não lhe disse mais nada. Foi à casa
    do vizinho seguinte e tocou a campainha. Não estava funcionando; Eva então bateu
    à porta e esperou.
    A senhora que abriu achou eletrizante que Eva lhe fizesse perguntas sobre Brix.
    Não conseguia esconder a animação. Seus olhos brilhavam de curiosidade, e falava
    com voz um pouco alta demais.

  • Não, eu não vi nada muito suspeito – disse. – Mas...
    Ficou evidente que a mulher estava com muita vontade de contribuir com alguma
    coisa, com qualquer coisa que convencesse Eva a se demorar mais um pouquinho
    ali. Em nenhum momento perguntou quem era ou por que estava batendo de porta
    em porta, e Eva se deu conta de que a moradora matutava se deveria mentir, se
    deveria inventar algo que trouxesse um pouco de emoção à vida banal de dona de
    casa em Kartoffelrækkerne.

  • Talvez a senhora se lembre de alguma coisa mais tarde – disse Eva, e foi embora.

  • Isso! E aí eu telefono. Prometo.
    “Não, não vai fazer isso”, pensou Eva. “Porque você não faz a mínima ideia de
    quem eu sou. E não tem o meu número.”
    O vizinho de Brix tinha sumido. Ficaram apenas o Opel azul brilhando e o balde
    de água com sabão. Nisso, o adolescente passou de skate por Eva. Ele parou e a
    encarou.

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