leis italianas. Um homem que, enfim, não dá a mínima para a democracia. Pois a
União Europeia o deixou entrar aqui. E quem é a primeira pessoa que ele vai visitar
na Itália? – Claudia olhou para Eva, esperando um palpite que, entretanto, não
veio. – O papa, em audiência privada, no Vaticano. O papa lhe deu a bênção.
- E os italianos não podiam ter negado a entrada dele?
- Não há nada que se possa fazer contra uma decisão do Tribunal de Direitos
Humanos. E o governo só o deixou entrar depois que Vítor jurou fidelidade à
Constituição e renunciou a qualquer direito sobre imóveis, títulos, poder ou
privilégios na Itália. Amadeu, filho de um primo do último rei, passou então a ser o
herdeiro “oficial” do trono. Por isso a briga na casa do rei da Espanha. - E as duas flechas?
- Pois é, as duas flechas. Barbara von Krüdener. A mulher que seduziu o czar.
- Seduziu com ideias sobre o direito divino dos reis...
- Christian me disse que, na Constituição da Dinamarca, a rainha reina pela
graça de Deus. Ou seja, que Deus, indiretamente, está envolvido na condição de
rainha da soberana de vocês. Você sabia que ela é muito, mas muito religiosa
mesmo? - Não. Bem, é, talvez.
- A rainha já disse isso em várias entrevistas. Durante muito tempo, ela ia à igreja
todo dia. Houve uma hora em que o marido quase enlouqueceu com isso. Está
mesmo convencida de que foi Deus quem a pôs no trono. Nesse sentido, não existe
diferença entre a Dinamarca e o Irã. No fim das contas, os dois países são presididos
por fanáticos religiosos que acreditam ter mandato do Todo-Poderoso. Pode até
haver primeiro-ministro e Parlamento, mas todo mundo que consegue subir... - Todo mundo que consegue subir – disse Eva, interrompendo-a – sobe apenas
através da estrutura de poder. - Exatamente. E a rainha tem Deus do seu lado quando decide quem vai subir e
quem vai ser preciso excluir.