conseguia sentir o cheiro da mulher. Cigarro, bebida, alguma coisa acre. As duas se
estudaram por um instante. Eva viu uma pessoa cansada, que talvez tivesse sido
atraente em sua época, muitos anos antes.
A velha senhora lhe deu as costas sem fechar a porta. Seria assim que se davam as
boas-vindas às visitas por ali? Eva entrou. Ficou imóvel um instante antes de fechar
a porta. Tirou os sapatos e os deixou ao lado de três pares idênticos de galochas.
Talvez a mulher não fosse a única moradora da casa.
- Você trouxe gravador? – gritou a senhora da cozinha.
- Como?
- Não quero que grave o que eu contar.
“Mas o que é isso?”, perguntou-se Eva. “Por que foi que a Tine me mandou para
cá?” Alguns velhos caixotes de madeira que serviam de estante se empilhavam num
canto, transbordando de livros. Livros sobre a Casa Real. Pelo menos o primeiro
que Eva pegou ali. E o seguinte. Todos. O príncipe herdeiro, o príncipe consorte, o
réveillon na Casa Real, o complexo palaciano de Amalienborg, o Château de Cayx.
Havia revistas por toda parte, principalmente exemplares da Billed-Bladet, cujo
papel brilhante refletia o sol que entrava pela janela. Pilhas de revistas na estante e
em caixas ao longo das paredes. A edição mais recente estava em cima da mesa,
diante de Eva, bem ao lado de uma garrafa meio vazia de xerez e um cinzeiro cheio
além da conta. Uma matéria sobre o novo penteado da princesa consorte Mary.
Famosos que davam nota àquele cabelo numa escala de um a dez. - Estou sem leite e sem açúcar – disse Rigmor, e deixou uma xícara de chá em
frente a Eva. – Tomara que você goste. - Obrigada.
- Comecei a enrolar cigarro. Assim a gente economiza um pouco. Cadê o meu
isqueiro? – disse a mulher, e revirou os bolsos. Achou o isqueiro e acendeu o
cigarro. Eva olhou para as unhas de Rigmor.
A fumaça não era desagradável e, junto com o vapor do chá, se colocou como um