freático; é quase impossível impedir que essa água entre.
- O que é aquilo ali? – perguntou Eva, e apontou uma coisa que se movia na água.
Não precisou esperar a resposta da mulher. De repente, a cabeça de uma ratazana
surgiu na superfície da água; o bicho então saiu guinchando e sumiu. - Merda! – murmurou Eva, e mais que nunca teve vontade de dar meia-volta.
- Rato não faz nada.
- Faz, sim. Falta muito?
A mulher respondeu dizendo algo completamente diferente: - Começaram a construir este túnel no outono de 1944.
- Começaram, quem?
- A Resistência. Havia boatos de que os alemães tomariam a família real como
refém, de que talvez matassem a todos. - A ideia era tirar a família de lá às escondidas?
- Pelo menos queriam ter essa opção. E construíram uma passagem secreta para
fora de Amalienborg. O túnel ficou pronto em fevereiro de 1945, depois de meses
de um trabalho danado. – A mulher deu uma passada por cima de uma pedra que
estava submersa. – Só o pessoal de mais confiança da Resistência sabia que o túnel
existia. Para construí-lo, trabalharam umas dezoito horas por dia, sem poder usar
máquina nenhuma. - Por causa do barulho?
- É. Trabalhavam debaixo do nariz dos alemães. Foi a fase mais perigosa da
Ocupação, disso não há dúvida. A polícia dinamarquesa vinha sendo desativada, e
os policiais, mandados para os campos de concentração. Os membros da
Resistência que eram capturados não podiam fazer mais nada; eram mandados
direto para o campo do quartel de Ryvangen, para ser executados. - Ainda usam o túnel?
- Não. Quase ninguém sabe que ele existe. Até onde sei, pensaram várias vezes em
fechar isto aqui, mas nunca chegaram a fazê-lo.