voz baixa. – É só uma cavidade pequena. A gente tem que continuar subindo por
aqui.
- Por aqui onde?
- De agora em diante, a gente só vai falar baixinho.
- E onde é que a gente está? – sussurrou Eva.
- Por aqui. – Deu alguns passos e abriu uma porta. – Vamos ter que passar pela
garagem.
Eva a seguiu através da porta. No teto, havia uma luz tênue. Uma luz amarelada
em meio à escuridão, mas o bastante para Eva ver que havia um Rolls-Royce preto à
frente e vários outros carros atrás dele – Mercedes, BMW, Jaguar. Mas foi o velho
Rolls que, mesmo no escuro, atraiu toda a atenção de Eva. Por um instante, ela se
viu entre a multidão, na praça dos quatro palácios – ou, talvez, na Kongens Nytorv
ou em outro ponto de Copenhague –, num dia de verão, com a cidade banhada de
sol, e ouviu o clamor de milhares de pessoas saudando a rainha, sentada naquele
carro. Viu a mão da monarca retribuir a saudação dos súditos; viu o sorriso dela.
Imagens icônicas; já as tinha visto incontáveis vezes na TV. Depois, quando a
multidão se dispersou em sua cabeça e Eva voltou a estar na garagem escura, pensou
em Tine Pihl, no que a jornalista havia contado sobre o efeito que a proximidade da
realeza tinha em tanta gente. “As pessoas ficam com tesão”; foram essas as palavras
que Tine usou. - Ande, vamos lá!
Eva tornou a ficar focada e se aproximou da mulher, que a esperava com
impaciência e disse: - Temos que sair por aqui.
O chão de cimento foi substituído por um de pedra lavrada. A mulher apertou o
passo. - A gente precisa se apressar – sussurrou, e consultou o relógio. – É aqui.
Pararam num portão.