Jagtvej, distrito de Nørrebro, Copenhague – 0h12
Parecia que estavam rodando um filme. Foi a primeira coisa em que Marcus
pensou quando chegou ao abrigo de mulheres. Na rua, as mulheres choravam
enroladas em cobertores. Tinham formado grupinhos e se consolavam umas às
outras. Luzes das ambulâncias e caminhões de bombeiros, crianças gritando,
policiais, homens uniformizados, apagão.
Viu as chamas lá dentro, os lampejos rubros e amarelos nas janelas. A fumaça,
num tom negro-acinzentado, quase se confundia com a escuridão e irritava os olhos
e a garganta. Ele já tinha se misturado à multidão. Onde estaria Eva? Ele não estava
apreensivo. Ninguém o conhecia, todos já tinham preocupação mais que suficiente
com a própria sobrevivência, ele não era mais que um entre todos os homens ali.
Com os olhos, procurou Trane e os outros. Tinha chegado atrasado? Era como se a
vida de Marcus dependesse de uma única coisa – salvar Eva antes que fosse tarde
demais. Demorou só um instante para perceber que não a acharia ali. Era esperta
demais, estava ressabiada demais. Claro que sabia que tinham sido eles que
provocaram o apagão e, depois, o incêndio. Ela sabia que era armadilha, uma
tentativa de obrigá-la a sair. Isso talvez fosse também vantagem para Marcus, seu
trunfo contra Trane. Trane não sabia quem estava enfrentando; ele a subestimava,
e subestimar é o pior erro que os soldados podem cometer. Vietnã, Tchetchênia,
Afeganistão. A história do mundo era uma sucessão de exemplos de forças militares
superiores que subestimaram os adversários com consequências catastróficas. Já