A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

  • E aí sou cúmplice.
    Marcus olhou para ele. Será que David não tinha entendido nada?

  • Nesta altura, você já é.

  • Aquilo ontem à noite foi outra coisa, muito diferente.

  • Diferente?
    Marcus estava a ponto de explodir, mas se conteve. Precisava chegar a David por
    outros caminhos. Marcus notava no olhar do outro o desespero, o medo. Muitas
    vezes, tinha constatado o mesmo antes de sair em patrulha no Iraque. Como
    superior, era importante explicar a missão aos soldados. A ideia, a ideia subjacente,
    era a única coisa capaz de serenar o medo, de conseguir que voltassem a acreditar na
    missão. Limpou a garganta.

  • Trata-se da Instituição. Você sabe disso, não sabe?
    David não respondeu.

  • A Instituição é o quê?

  • Do que você está falando?

  • Quem responde é você. A Instituição é o quê? E por que a temos?

  • Em prol da ordem – replicou David. Só isso; não tinha vontade de dizer nada
    mais.

  • Dê uma olhada nos banhos. Vamos, David; vamos falar deles. Agora e nunca
    mais, OK?

  • OK.

  • Dê uma olhada nos banhos públicos.
    David olhou para a velha construção de madeira pintada de azul, a cor que o mar
    nunca tem na Dinamarca.

  • Esses banhos também são uma instituição. Alguns dos usuários são sócios;
    outros não. Os banhos têm regulamento e estatutos; os sócios cuidam do lugar e,
    por isso, têm chave; e, tendo chave, assumem obrigações. Os banhos existem há
    muitos, muitos anos; e continuarão aqui por muito tempo ainda. Por quê?

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