A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

  • É mesmo – disse Marcus, indo para o fundo do vestiário.
    O homem já estava acabando. Estava às turras com os botões da camisa. Não
    tinha secado bem as costas, e o tecido se colava à pele. Marcus olhou ao redor. Lá
    estava a caixa dos achados e perdidos. Achou uma toalha listrada com as cores dos
    Estados Unidos. Despiu-se, pendurou a roupa no gancho e se enrolou na toalha.

  • Aproveite bem! – disse o homem.

  • Obrigado. Boa noite – disse Marcus, e saiu.
    Ficou parado um instante, para se adaptar à escuridão. A sauna estava a alguns
    passos dali. No caminho, Marcus quase escorregou no chão molhado. Por um
    momento, sentiu-se frágil, coisa infrequente que não lhe desagradou de todo. Ficou
    ali em pé, descalço nas tábuas da passarela, debaixo da chuva, até que a sensação foi
    embora. Deu uma olhada pela janelinha e pôde ver que a sauna estava até bem
    cheia. Tinha duas opções: ou entrava para vigiar o velho, ou o esperava do lado de
    fora, no escuro. Não, era perigoso demais. Levantaria suspeitas se o vissem ali fora,
    escondido atrás da parede. O melhor seria mimetizar-se com o entorno, de modo
    natural, pensou. Além disso, estava com frio.
    Todos o olharam rapidamente quando abriu a porta da sauna. Eram cinco
    mulheres e três homens, com peitos velhos e pesados e barrigas grandes e
    pendentes. As mulheres sorriram para ele, e o olhar de Marcus cruzou com o de
    Hans Peter, que estava sentado no banco superior. O velho não o reconheceu. E
    por que o faria? Hans Peter o tinha visto de longe pela manhã, quando Marcus
    estava de terno. Marcus se instalou no assento que estava livre, ao lado das duas
    mulheres que ele tinha visto ao entrar nos banhos. Olhou para o termômetro:
    noventa graus. Ao lado do termômetro, havia uma ampulheta, onde a areia caía
    pelo gargalo num fio fino. Teria sido Hans Peter quem deu a volta na ampulheta ao
    entrar? Logo acabaria o tempo, e o velho sairia para pular na água. A porta se abriu.
    Entrou uma mulher, que cobriu os seios, num gesto protetor, até sentar.

  • Que zoeira! – disse ela.

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