manhã com Torben, Anna e Kamilla. A mulher esboçou um sorriso de desculpas e
se pôs ao lado de Eva. Foi quando Eva pôde vê-la bem pela primeira vez. Tinha uns
trinta e poucos anos, e os lábios finos e pálidos a faziam parecer ligeiramente mal-
humorada.
- Já começaram? – cochichou.
Eva se limitou a dar de ombros, e notou como o perfume dessa professora se
propagava lentamente pelo recinto e se misturava com o cheiro de suor. Gucci
Guilty. Tinha reconhecido de imediato a fragrância. Sua antiga chefe no Berlingske
a usava. Inclusive no dia em que demitiu Eva. - Muito bem – disse Torben, agora em tom impaciente. – Vamos começar,
então. Como todos vocês provavelmente já sabem, trata-se do Malte.
Eva quase sentiu fisicamente quando o nome do menino foi pronunciado em voz
alta. - Vocês com certeza viram que a mãe do Malte veio pegá-lo hoje de manhã. Ela
fez isso porque aconteceu uma tragédia na família. Parece que o irmão dela se
suicidou. – Fez uma pausa teatral de muito mau gosto, tomou fôlego e deu um
suspiro sonoro e dramático, como se a menção de suicídio exigisse um momento de
silêncio. - Que horror! – Mie acabou exclamando.
- Pois é – disse Torben, e tocou repetidamente a borda do copo já vazio.
- Que idade tinha esse que se matou? – perguntou Gitte.
- Não sei. – Torben balançou negativamente a cabeça. Talvez lhe parecesse que,
em vista da magnitude da tragédia, a idade não tinha importância. - Mas sabem por que fez isso? – insistiu Gitte. – Tinha filhos?
Anna pigarreou e disse: - Só sabemos o que o Torben acaba de contar, que o tio do Malte se suicidou e
que a família está profundamente abalada. Por isso, pensamos... – Deteve-se, como
se de repente visse que estava a ponto de dizer o que Torben deveria contar.