Caras - Edição 1344 (2019-08-09)

(Antfer) #1

R


aríssimas são as
substâncias químicas
utilizadas em
tratamentos médicos ao
longo da história que se
tornaram tão comentadas
e conhecidas do público
em geral. Normalmente,
são os nomes comerciais
destas substâncias que
acabam ficando “famosos
e bajulados” quando o
medicamento é muito
inovador e eficiente.
Mas, nos últimos anos,
é inegável que uma
substância química entrou
literalmente para o
vocabulário comum
de todos e todas
que buscam alguma
informação sobre estética,
beleza e rejuvenescimento:
o ácido hialurônico.
Confesso que a primeira
vez que ouvi sobre ele, já
estava em aprofundados
estudos da minha
graduação em medicina,
outros tempos, onde o
apelo da estética ainda
não era tão intenso e
amplo como nos dias
atuais. Substância naturalmente presente no
nosso organismo, este ácido preenche muitos
dos espaços vazios entre as nossas células,
como um cimento que sustenta os tijolos
em uma parede, ajudando a dar a forma
e a estrutura de quase todos os órgãos, não
só da pele. No momento em que a ciência
conseguiu desenvolver a capacidade de
produzir, em laboratórios, uma versão
sintética biocompatível do ácido hialurônico


  • que não provoca rejeição por parte do
    organismo –, tornou-se um dos trunfos
    mais importantes na tentativa da correção
    daquelas situações em que o tempo ajudou
    muito a provocar, pois a sua quantidade


mais utilizado, existem
numerosos vasos
sanguíneos responsáveis
pela irrigação de estruturas
nobres, como nossos olhos,
por exemplo, e por mais
que o médico conheça
muito bem a anatomia
geral da face e saiba onde
estes vasos sanguíneos
costumam estar, não é raro
algumas pessoas terem
estes vasos passando
por locais diferentes dos
habituais – são os chamados
“vasos anômalos”, e uma
eventual injeção do ácido
neles, ou muito próximo a
eles, gerando compressões,
podem levar a uma
interrupção do fluxo de
sangue nestes pequenos
vasos, levando a uma
isquemia desta região.
Casos de cegueira e de
necroses de regiões do nariz
e das bochechas vêm sendo
cada vez mais relatados
conforme se popularizam
estes procedimentos,
muitas vezes realizados
por profissionais
sem formação médica
especializada e consistente, gerando-se
um risco maior destas complicações.
Torna-se cada vez mais importante
uma regulamentação mais definitiva e
esclarecedora, de quais profissionais realmente
estão aptos a realizar esses procedimentos,
com a consequente capacitação mais
específica, com estudos mais frequentes e
aprofundados da anatomia das estruturas da
face e de técnicas de imagem e de injeção
mais seguras.

Será o famoso ácido hialurônico


a solução para tudo e para todos?


Praticamente todo mundo já ouviu falar no ácido hialurônico. Substância que está naturalmente
presente no nosso organismo, mas que com o tempo vai diminuindo, ele já tem uma versão sintética
biocompatível. E é esta versão que popularmente se está usando para amenizar traços da idade.
O verdadeiro cuidado, no entanto, está na técnica da injeção e no local exato onde ele é injetado.

natural no organismo vai reduzindo
conforme a idade avança.
A questão principal com o ácido e seus
diversos nomes comerciais – vários laboratórios
o produzem e a maioria de ótima qualidade –
vai além do produto em si. A questão está na
técnica da injeção e no local exato onde ele é
injetado – aí a coisa começa a ficar um pouco
mais complicada e os riscos de problemas,
alguns mais sérios, passam a ocorrer, mesmo a
partir das mãos de profissionais bem treinados.
Quando aplicado nas articulações,
por exemplo, este risco de complicações
praticamente não existe, mas na profundidade
da pele, principalmente na face, local em que

* Fabrício Lamy é médico Dermatologista Membro Titular da
Soc. Brasileira de Dermatologia – SBD e professor do Curso de
Pós-Graduação em Dermatologia do Inst. Carlos Chagas, RJ.

por Fabrício Lamy*
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