Dossiê Superinteressante - Edição 406-A (2019-08)

(Antfer) #1
— 55

Nosso vizinho (e, para alguns, potencial
oponente militar) tem uma doutrina
completamente diferente da do Brasil.
Por Fábio Marton

C


Como tudo na Venezuela, as forças
armadas também são “bolivarianas”. O
nome foi mudado de Forças Armadas
Nacionais para Forças Armadas Nacio-
nais Bolivarianas com a Lei Orgânica,
de 31 de julho de 2008, então sob o
falecido presidente Hugo Chávez (1954-
2013). Não foi mera propaganda. Há di-
ferenças ente o papel de um exército
comum e a força bolivariana.
À função básica de defesa das
fronteiras e da ordem das Forças Ar-
madas, foi acrescida a “participação
ativa no desenvolvimento social”. As
Forças Armadas Bolivarianas foram
definidas, em oposição à Constitui-
ção de 1999, que previa que fossem
apartidárias, como “humanistas e
socialistas”. Por fim, foi introduzido
o termo “Novo Pensamento Militar”,
que cambiou a estratégia inspirada
nos EUA e outros países ocidentais
para basicamente a de Cuba.
Chávez veio ele próprio da carreira
militar, um tenente-coronel do Exército
que se lançou à polítca após liderar
uma tentatva de golpe em 1992. Por
várias vezes, ele afirmou que o regime
bolivariano era uma “aliança civil-mili-
tar”. E a Venezuela é, definitvamente,
um país altamente militarizado. Clu-
bes militares são abertos ao público,

paradas são uma visão frequente, es-
colas militares admitem civis – e isso
é só o mais obviamente visível.

a coluna do regime
Em 2008, também foi criada a Milícia
Nacional Bolivariana – um grupo vo-
luntário, exército de reserva. Na prát-
ca, bem mais que isso. Ente as várias
funções da milícia, estão “estabelecer
vínculos permanentes ente a Força
Armada Nacional Bolivariana e o povo
venezuelano”, “Orientar, coordenar e
apoiar em suas áreas de competência
os conselhos comunitários a fim do
cumprimento das polítcas públicas” e
“Receber, processar e difundir a infor-
mação e consolidação dos conselhos
comunitários”. Não é muito difícil en-
tender como a milícia foi vista de fora
como um exército de contole polítco.
Assim anunciou o site de oposição La
Patlla em 2017: “Num país sem re-
médio nem comida.... Maduro aprova
recursos para ‘garantr um fuzil para
cada miliciano’”.
As milícias foram força atva na re-
pressão dos protestos após a tentatva
de levante militar fracassada de 30 de
abril de 2019. Ainda que, em caso de
guerra, os mal teinados e mal arma-
dos civis, descritos por um diplomata
anônimo ao New Yorker como “exército
de cadeira de rodas”, não teriam real-
mente muita chance. Mas não estão
sozinhas: é preciso mencionar também
os collectvos – forças de civis armados,
sem ligação direta com o Estado, que
impõem também a vontade do regime.
Mas a maior parte da repressão
ficou por conta da Guarda Nacional,
que, com funções de defesa civil, é um
dos cinco ramos das Forças Armadas
Nacionais Bolivarianas, junto às já
citadas milícias e as tês forças regu-
lares, Exército, Força Aérea e Marinha
Bolivarianos.
Para nossos propósitos aqui, no que
implica a capacidade de lutar, o que faz

O sOldadO
VeNezuelaNO

CapaCete
paS Gt

Originalmente parte
do uniforme americano
usado de 1985 até 2006,
quando começou a ser
aposentado por opções
mais hi-tech. Data, como
os F-16 da Aeronáuti-
ca, de antes do regime
Chávez, mas hoje é
produzido na China.

aK-103

Atualização de 1994
do AK-47. É construído
na Venezuela, segundo
um acordo de 2008,
mas o país passou por
vários problemas e um
escândalo de corrupção,
com a produção prevista
para ser normaliza-
da só este ano.

Uniforme

A cor oficial do uniforme
venezuelano é o “verde
patriótico”. É simples, de
poliéster e algodão, e só
tem as joelheiras e coto-
veleiras (que servem para
se arrastar) e um colete à
prova de balas simples.

Exércitos do mundo venezuela


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