24 | Sabor. club [ ed. 32 ]
O resultado é fascinante. A comida da Denise é muito leve, colorida, fresca e saborosa.
Nos revela gostos que estamos muito pouco acostumados, absolutamente confortáveis,
aconchegantes. Aliás, está escrito numa das paredes, logo na entrada do restaurante:
“Velkommen, aqui nós praticamos o hygge, que significa aconchego. Então, tenha calma,
sinta-se em casa e aproveite”.
De fato, no Escandinavo, ouvimos e comemos as histórias e os hábitos noruegueses, desde
a simpática falta de pompa no serviço até o pão no galho, com massa enrolada num graveto.
Na Noruega, explica Denise, os nativos têm uma vida ativa fora de casa, independentemente
do tempo. Saem para caminhar e acabam fazendo o que conseguem pelo caminho, comendo
na beira do rio ou diante de uma fogueira no campo – ou na neve! O pão no galho é feito
com uma sorte de grãos levada nos bolsos que é misturada com água fluvial ou com a neve
derretida e então vira massa. Ela é enrolada na ripa de madeira e assada na fogueira.
O ritual com o fogo inclui também o café defumado (e de-li-ci-o-so!) com a fumaça da
lenha que queima sob a chaleira com furinhos que capturam os gases fumegantes. E ainda o
inesperado café do marinheiro. Da floresta para o oceano, ele é uma representação da bebida
que os marujos fazem em alto mar, quando saem para capturar caranguejos gigantes. Lá,
com pouca água potável no barco, fazem a infusão com a água salgada mesmo. O sal acaba
potencializando o sabor dos grãos, como acontece num caramelo com flor de sal.
Como se vê, tudo aqui tem muita boca e é muito natural. O que dizer então do salmão
curado e defumado que até os noruegueses que frequentam a casa dizem que é melhor do
que muitos que já comeram na terra natal? A cozinheira ralou muito na fumaça até chegar
num peixe realmente suculento com muuuito sabor. Como não temos salmão norueguês por
aqui, Denise poderia usar o peixe selvagem do Alasca ou exemplares de qualidade que vêm
do Chile (sim, também há bons salmões por lá). Ficou com a segunda opção, por causa da
garantia de padrão e de procedência do pescado.
As duas palavras mais o frescor são o mantra que dão origem ao cardápio enxuto do
Escandinavo, com poucas entradas e apenas quatro pratos, um deles trocado a cada 15 dias.
Tudo feito com ingredientes comprados dia sim, dia não, produzido na própria cozinha, sem
qualquer desperdício – mesmo. O Escandinavo fica no bairro de Pinheiros, em São Paulo,
mas, sem estereótipos, é um norueguês de verdade.
“Velkommen, aqui nós praticamos o hygge, que significa aconchego.
Então, tenha calma, sinta-se em casa e aproveite”
Bora para
a Noruega?
A Denise
Guershman leva
pequenos grupos
para lá
A ideia da cozinheira
é oferecer uma
vivência de quem
realmente conhece
o país, numa
experiência rica
culturalmente
e acessível
economicamente
- uma vez que
os custos na
Escandinávia, de
uma maneira geral,
são muito altos. O
roteiro inclui uma
imersão no país, que
vai muito além da
capital, com muita
beleza natural e...
comida boa! Desde
os laticínios de Aros,
a cidade que inspirou
os produtores da
animação Frozen,
até o aquavit (a
aguardente local)
de uma destilaria,
num ponto perfeito
(quase infalível) para
observar a aurora
boreal. Claro, o
roteiro passa pelas
vilas vikings e pelos
mercados de peixes
com os caranguejos
gigantes.
Byggryn é
um cozido com
legumes e creme
azedo, muito leve
e saboroso
Escandinavo – R. Dep. Lacerda Franco, 141, Pinheiros, São Paulo –SP. Tel.: (11) 96451-3670