Adega - Edição 166 (2019-08)

(Antfer) #1

18 ADEGA >> Edição^166


essa conversa do aroma e sabor de mofo da
botrytis. Você não vai achar isso nos nossos vi-
nhos. O que botrytis faz é concentrar os sabores
e aromas que estão dentro da uva. Ela é muito
sensível, não gosta muito de influências climáti-
cas, então fazemos até cinco seleções por vinhe-
do. Colhemos uma vez e deixamos até a pró-
xima botrytis aparecer. Poderíamos esperar até
tudo ficar botrytizado, mas quando a primeira
uva estiver morta, vamos ter esse sabor de mofo
no final, e é isso de que não gostamos.

Qual a dificuldade de trabalhar com botrytis?
Vivo em uma área em que a botrytis aparece
todos os anos. Desde 1959 nunca houve uma
safra em que não fizemos vinho doce e também
nunca houve uma que não tenha ido ao nível
mais alto de TBA. Isso é único. Nenhuma outra
área no mundo pode dizer isso. Temos o micro-
clima perfeito. Porque nos especializamos em
vinhos doces? Não foi uma decisão minha. Foi
uma decisão da área. Se vivesse no Pomerol,
produziria Merlot.

Como posicionar vinho austríaco na mente do
consumidor?
O mercado americano é um ótimo exemplo.
Estamos nele há 30 anos, mas quando vou
para lá ainda tenho que dizer que não sou o
cara do canguru: “Áustria, não Austrália”. So-
mos um país pequeno e a produção nunca será
grande, essa é a primeira coisa. Nunca seremos
populares como o Malbec é aqui. Mas pode-
mos trazer alguns vinhos especiais, que não
podem surgir em outros lugares. Esse é nosso
ponto e estamos fazendo em um nível muito
alto. A chave deve ser singularidade e grandes
vinhos. Há uma diferença entre vinhos bons e
ótimos. Quando você vai almoçar e pede um
bom vinho, o almoço termina e você sequer
lembra do que bebeu. Mas um grande vinho
mantém seu pensamento naquela taça. Na-
quele momento, você esquece tudo ao seu re-
dor. E isso é um grande vinho. Ele lhe pega.
É isso que queremos produzir.

Talvez duas a cada 10 safras e isso não é sufi-
ciente. Um dia, um amigo, consultor e enólogo
de uma vinícola na Romênia, chamada Liliac,
disse que, há pelo menos 10 safras, todo fim de
ano fazia 10ºC negativos. “O que acha de ten-
tar um icewine?”, sugeri. E, desde 2015, temos
feito todo ano. As variedades mudam um pouco
a cada ano, mas todo ano com qualidade fan-
tástica.

O que significam os números nas cuvées da Collection
de TBAs?
Como fazemos varietais, às vezes algumas va-
riedades têm duas ou três versões. Todo mundo
fala sobre diversidade, mas ninguém realmente
faz. Nós podemos fazer. Com cada variedade
podemos fazer um TBA. Na Collection, os vi-
nhos são numerados, é a principal qualidade
que conseguimos produzir numa safra. E, algu-
mas vezes, com 15 diferentes vinhos – como em


  1. Por isso começamos a numerar. Já na sa-
    fra 2014, só produzimos um. Depende da safra.
    Então, quanto maior o número, maior a con-
    centração. Não significa que o vinho é melhor,
    apenas uma questão de concentração.


A coleção é o auge?
Sim, a maior qualidade possível na safra. Nela
podemos mostrar sabores diferentes. Em cada
vinho você pode dizer a variedade imediata-
mente depois do primeiro aroma. Sempre há

Há uma
diferença

entre vinhos


bons e ótimos.


Quando você


vai almoçar


e pede um


bom vinho,


o almoço


termina e você


sequer lembra


do que bebeu.


Mas um


grande vinho


mantém seu


pensamento


naquela taça.


Naquele


momento, você


esquece tudo


ao seu


redor

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