Motociclismo - Edição 260 (2019-08)

(Antfer) #1

A política de


Trump e a Harley


O presidente americano, buscando proteger
seu mercado e usando a Harley-Davidson

como exemplo, em vez de ajudar, prejudicou!


COLUNA


Raul Fernandes Jr.
Ex-diretor de redação
da MOTOCICLISMO,
é especialista em
mercado de motocicletas

por RAUL FERNANDES JR.

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motociclismo
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66 motociclismom AGOSTO 2019


A


adoção de uma postura dura sobre as ta-
rifas comerciais contra o mundo em geral,
especialmente contra China, Índia e UE
(União Europeia), por parte do presidente
dos Estados Unidos, Donald Trump, aca-
bou prejudicando muito a Harley-Davidson (H-D).
O fato de Trump ter usado a H-D como exem-
plo, de como outros países cobravam altas tari-
fas sobre mercadorias norte-americanas, tornou a
empresa um dos principais alvos de tarifas de re-
taliação, forçando-a a mudar sua produção e fe-
char algumas fábricas em próprio solo natal.
Na Índia, onde Trump também foi rígido sobre as
tarifas das motos Harley, as vendas da empresa es-
tão em declínio. Enquanto no ano fiscal 2017/18 fo-
ram vendidas 2.043 motos, em 2018/19, foram ven-
didas apenas 1.513 motos. Depois que a União Euro-
peia sofreu a tarifação sobre suas exportações de aço
e alumínio para os EUA, os países europeus aumen-
taram os impostos sobre os produtos norte-america-
nos, incluindo as motos H-D, passando os encargos
de 6% para 31%. Diante de um aumento de US$ 100
milhões em seus livros de contas, a Harley buscou -
e recebeu - a aprovação da UE para importar motoci-
cletas de sua fábrica na Tailândia, que também aten-
derá os mercados chinês e de outros países do Su-
deste Asiático. Entretanto, devemos destacar que as
vendas da Harley-Davidson na China aumentaram no
trimestre, encerrado em junho, com vendas totais do
Sudeste Asiático subindo 77%.

Na verdade, enquanto suas vendas globais
caíram 8,4%, na região Ásia-Pacífico a queda fi-
cou em apenas 0,6% no mesmo período. Esse
é um indicador de que não há tantos problemas
no exterior quanto existem no mercado ameri-
cano, pois, nos últimos dois anos, a H-D foi for-
çada a cortar empregos na América.
Pelo décimo trimestre consecutivo, as ven-
das no varejo da montadora americana mantive-
ram sua trajetória de declínio, com queda de 8%
no mercado norte-americano. As vendas internas
nos EUA representam 58% de sua produção total
e a Harley tem lutado para se tornar atraente pa-
ra um cliente mais jovem no mercado doméstico.
Enquanto o comprador médio da H-D nos
EUA é de meia-idade, ao redor de 50 anos, casa-
do, ganhando um mínimo de US$ 90.000 por ano
e que a compra porque o motociclismo é uma pai-
xão ou um hobby, o perfil mais jovem – na faixa
etária de 34 anos – é mais entusiasmado com as
motos que são muito mais baratas e cujo objeti-
vo é suprir sua necessidade básica de transporte.
As vendas globais da Harley no ano passado
foram menores do que as projeções, mas a queda
nos EUA foi de 10,2% em relação a 2017. Contra
uma projeção de vendas mundiais de 231.000 a
236.000 unidades em 2018, a empresa conseguiu
vender apenas 228.051 unidades - 6,1% a menos
do que as 242.788 motos vendidas no mundo em


  1. Para 2019 a empresa reduziu sua previsão
    de vendas globais. Segundo eles, a quantidade
    deverá ficar entre 212.000 e 222.000 unidades.
    Já no Brasil, a Harley-Davidson continua sen-
    do uma marca muito forte e cresceu 7% no pri-
    meiro semestre de 2019, em relação ao mesmo
    período do ano passado. As vendas subiram de
    2.625 unidades para 2.810 nos primeiros seis
    meses de 2019. A esperança é que as estraté-
    gias adotadas pela Harley voltem a fazê-la cres-
    cer mundo afora, independentemente das políti-
    cas externas do presidente Trump.


147.972

242.788

132.868

228.051

20172018


VENDAS H-D NOS EUA VENDAS H-D GLOBAIS
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