Você SA - Edição 255 (2019-08)

(Antfer) #1
O que esportes e negócios
têm em comum?
Nos dois mundos você tem de entre-
gar resultados e depende de pessoas.
No caso do vôlei, só trabalhamos com
gente. Não há produto nem serviço, só
pessoas. Mas uma empresa também
precisa de time, de gente comprome-
tida — o que eu chamo de atletas cor-
porativos. Toda companhia tem um
time e todo time tem de ter valores.
Quais são os valores que os movem?
Pelos valores é possível saber quais as
prioridades da equipe. Sem ego e vai-
dades, com preparação, treinamento,
dedicação, resiliência.

Mas lidar com o próprio
ego nem sempre é fácil.
Essa é a maior armadilha para times e
pessoas que conquistam uma posição
de liderança. Todos nós temos ego,
mas precisamos mantê-lo sob contro-
le, na dimensão correta, para que não
atrapalhe nossa caminhada. Quando
você começa a se achar importante
demais, deve repensar e lembrar que
isso não existe. Em atividades com
muita visibilidade, como o esporte,
você tem os holofotes — o que é pe-
rigoso e sedutor. Eu costumava brin-

car dizendo que a imprensa me fazia
acreditar que, quando ganhávamos,
nós éramos melhores do que real-
mente somos e, quando perdíamos,
éramos piores. Mas você não é tão
bom nem tão ruim assim. Está em
algum lugar no meio dos dois.

Como manter o ego sob controle?
É um exercício de entender que todos
nós somos apenas uma ferramenta
dentro de uma estrutura maior. O
ego é o grande inimigo da constru-
ção de um verdadeiro time. O mais
importante é ser fiel à sua essência,
leal à sua equipe e ao seu propósito.
Ninguém é especial, eventualmente
fazemos coisas especiais, como con-
quistar uma medalha de ouro. Mas
isso não nos torna insubstituíveis nem
melhores do que ninguém. Somos
pessoas como todas as outras. Apenas
tivemos atribuições, experiências ou
conhecimentos que, naquele momen-
to, trouxeram um grande resultado.

Qual a principal lição sobre
liderança que seus papéis de técnico,
atleta e empreendedor ensinaram?
A competitividade do mercado bra-
sileiro é difícil. Não é simples em-

O vitorioso técnico de voileibol Bernardinho acredita que, para ter
uma boa gestão, é preciso controlar o ego e ouvir o time
Monique Lima*

SACADAS


DE LÍDER


ENTREVISTA

60 wAGOSTO DE 2019 wVOCÊ S/A *ESTAGIÁRIA SOB SUPERVISÃO DA JORNALISTA ELISA TOZZI FOTO: ANDRE VALENTIM

B

ernardo Rocha Re-
zende, que ficou co-
nhecido em todo o
Brasil como Bernar-
dinho, tem várias
facetas. Uma delas,
claro, é mais famo-
sa: a de treinador
de voleibol. Afinal,
sob seu comando
enérgico no canto da quadra, as se-
leções masculina e feminina de vôlei
trouxeram quatro medalhas olímpi-
cas para o país (duas delas de ouro).
Mas o carioca de 59 anos tem outras
atribuições. Economista de formação,
ele concilia seu atual trabalho como
treinador do time feminino do Sesc
Rio de Janeiro com as atividades de
palestrante, conselheiro do Institu-
to Compartilhar (que leva o esporte
para crianças de comunidades caren-
tes no Rio de Janeiro) e empresário
— é dono da Escola de Vôlei Bernar-
dinho, sócio do portal de educação
online Eduk e da rede de academias
Bodytech. Essas tarefas tão diversas
fizeram com que ele desenvolvesse
um senso apurado de liderança — e é
sobre isso que falou nesta entrevista
exclusiva a VOCÊ S/A.
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