coNSUlToriA Daniela Leal, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação do
Centro Universitário Moura Lacerda (CUML), membro da Associação Brasileira de Pesquisadores
em Educação Especial (ABPEE).
foNTe Alfred Adler: Apóstol de la Libertad, artigo de Phyllis Bottome publicado em 1952.
A psicanálise, assim
como a retratação e a
ficção, também é movida
por trajetórias, muitasvezes, marcadas por
complicações e dilemas
responsáveis por gerar
ensinamentos e reflexõesimportantes para o
desenvolvimento do
campo.
desejo pelo poder
Nascido em 1870 em Viena, capital da
Áustria, Alfred Adler foi o segundo de seis
filhos. Com um aspecto físico debilitado na
infância, reflexo do raquitismo que exigiu
muito esforço para tarefas corporais simples
e que o impediu de andar antes dos quatro
anos de idade, o psicanalista também sofreu
de dispnéia, patologia que gerava desconforto
ao respirar. De acordo com o artigo Alfred
Adler: Apóstol de la Libertad (em tradução livre,
Alfred Adler: Apóstolo da Liberdade), escrito
pela pesquisadora britânica Phyllis Bottome,
foi durante essas dificuldades de saúde que Adler decidiu
seguir carreira na medicina. “Invadiu-me um medo e, alguns
dias depois, uma vez recuperado, decidi definitivamente
ser médico, para dispor de uma defesa mais eficaz contra
o perigo da morte e de armas para combatê-la, superiores
às do meu médico”, relatou o psicanalista à escritora.
Decidido do rumo profissional, Alfred formou-se em
1895 na Universidade de Viena. Apesar de, inicialmente,
ter atuado como oftalmologista, a convite de Freud passou
a frequentar, em 1902, as reuniões da Sociedade Psicológica
das Quartas-Feiras – círculo que, posteriormente, daria
origem à Associação Psicanalítica Internacional, fundada
por Sigmund Freud e Carl Jung. A participação trouxe
frutos: “Enquanto esteve junto de Freud, Adler contribuiu
com profundos questionamentos a respeito da teoria que
estava sendo criada pelo austríaco e seus companheiros”,
aponta a professora de psicologia especialista em Alfred
Adler Daniela Leal.
Entretanto, a parceria apresentou problemas em virtude
das divergências teóricas que iriam dar origem ao afasta-
mento definitivo de Adler em 1911. Afinal, o psicanalista foi
responsável por desenvolver teorias como de sentimento de
inferioridade e compensação, que pregavam que o impulso
básico do ser humano era o desejo pelo poder – caso não
fosse cumprido originaria complexos. “Em um primeiro
momento, os conceitos foram bem aceitos por Freud.
Contudo, posteriormente, foram amplamente contestados,
pois Adler não acreditava que a origem dos problemas
se encontrava apenas nas questões de sexualidade. Pelo
contrário, ela poderia ser de origem orgânica/biológica
ou mesmo social”, explica Daniela Leal.o auxílio da análise
Por sua vez, Erich Fromm nasceu em Frankfurt, na
Alemanha, em 1900, originário de uma família de judeus
com tradição ortodoxa. Interessou-se por política logo na
adolescência, aos 15 anos, até mesmo antes de cursar direito
e filosofia na Universidade de Frankfurt. Influenciado por
figuras como o psicanalista Sigmund Freud e o sociólogo
Karl Marx, adotou uma psicanálise crítica a partir de 1922,
fortemente marcada pelas crises da década (destaque para
as consequências da Primeira Guerra Mundial e Grande
Depressão de 1929).
Após presenciar a morte de uma amiga aos 25 anos de
idade, Fromm passou a desenvolver uma psicanálise prática
e funcional. Afinal, apostava que o papel da análise seria
proporcionar ferramentas para o sujeito consolidar sua auto-
nomia, adotando posturas respeitosas e positivas. Motivado
pelo pensamento marxista, o psicanalista acreditava que a
humanidade é movida pela necessidade de consumo. Para
escapar desse determinismo, é essencial que desenvolva uma
personalidade caracterizada pela produtividade e por relações
sociais engrandecedoras – outro ponto de destaque do pensamen-
to do psicanalista – ,
ao invés do cultivo de
bens e posses.Imagens: Luckytd/Gettyimages; Albert Hilscher e Müller-May/WikimediaCommonsRetornar
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