Leitura & Conhecimento - Ano 2 Número 05 (2019-07)

(Antfer) #1

século 21


C

om pai e mãe de origens
portuguesa e espanhola,
respectivamente, André
Green nasceu no Egito
em 1927, mas, em termos
de psicanálise, faz parte da chamada
corrente “clássica” francesa. Sua relação
com o país europeu começou cedo: além
de estudar no liceu francês localizado
no Cairo (cidade onde passou a infância
e adolescência), sua família viajou para
o local ao buscar tratamento para sua
irmã mais velha, cujo quadro de saúde
envolvia complicações relacionadas aos
ossos e às articulações.
Formado em medicina, com especiali-
zação em psiquiatria, é reconhecido como
um dos pensadores mais importantes da
atualidade no campo dos estudos da mente


  • faleceu no dia 22 de janeiro de 2012,
    em Paris. De acordo com o psicanalista
    Willy Schumann, Green é considerado
    o pai da psicanálise moderna. “Ele nos
    apresentou teorias empíricas importantes


na área da psicopatologia e metapsicologia,
totalmente novas e muito influenciadas
pela obra de Freud. O estudioso ‘jogou
uma luz’ intensa e esclarecedora sobre
os problemas somáticos da atualidade,
tais como a anorexia, bulimia, autismo
e psicose”, avalia Willy.

contribuições
Uma das características do trabalho
do autor é a relação entre a prática clínica
e a produção teórica, uma vez que via na
atuação com o paciente inquietações que
despertavam a elaboração de pensamentos.
Willy ressalta que, entre as suas
produções, destacam-se temas como o
irrepresentável e a pulsão de morte, a
mãe em todos os seus estados, a clínica
do vazio, a teoria do negativo, o narci-
sismo negativo, a alucinação negativa,
a reação à perda do objeto e a relação
com a construção e defesas psíquicas
utilizadas pelo sujeito para lidar com o
trauma narcísico.

TEXTO E ENTREVISTA érika alfaro DESIGN ana paula maldonado

CONSULTORIA Willy Schumann, psicanalista e
jornalista especialista em comportamento humano.

sessão
O jornalista e psicanalista Willy
Schumann explica que, na sessão
analítica proposta por Green, o
paciente se aprofunda no seu relato
biográfico enquanto o psicanalista
promove, de forma cautelosa, as
associações livres desses dados
regressos do inconsciente (saiba
mais sobre a técnica a partir
da página 10), reativando as
dificuldades da vida atual.
Apesar do princípio freudiano,
o método do egípcio, ao invés
da escuta consciente, propõe
essa percepção voltada ao pré-
consciente. “A partir de então,
o profissional se coloca em uma
posição de receptividade ao que o
inconsciente do sujeito apresenta
e revela. Para Green, não basta
apenas emergir algo à consciência
se não houver reconhecimento do
inconsciente”, explica o especialista.

Ao mesmo tempo


em que desenvolveu


conceitos próprios,


André Green


revisitou e defendeu


o legado de


Sigmund Freud


atualização

Tradição e

Imagem: Reprodução


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