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podem ser tomadas hoje?”.
As dores são outras perguntas. Perguntas incisivas. O
sono excessivo é uma pergunta que não nos deixa dor-
mir. A postura física questiona a nossa postura emocio-
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LEITURA DA CABEÇA AOS PÉS
A expressão “corpo docente” designa o próprio corpo
dos professores. Ou seja, um corpo que ensina e avalia,
que aprende e educa, que orienta e é orientado.
Mais do que mero instrumento “usado” para o ato de
ensinar, é o corpo dos docentes que vai ensinar, edu-
car, orientar, avaliar.
O corpo é um livro a ser lido da cabeça aos pés.
Começando pelos pés.
Há quem veja na palavra grega pódos (pé) ligações e
ressonâncias com outra palavra grega, paidós (crian-
ça). O pedagogo (paidagogós, ainda em grego) era o es-
cravo encarregado de levar as crianças à escola e, no
caminho, dirigindo seus passos, certamente contava
histórias fantásticas sobre outras terras pelas quais
tivesse andado.
Esta p(é)dagogia, tão despretensiosa, deixa pegadas.
Os pulmões, delicados e ritmados, oxigenam, crian-
do em sala de aula uma atmosfera saudável.
O fígado (o segundo maior órgão do corpo humano)
está ligado às emoções mais entranháveis e à renova-
ção de nossas energias. Não é à toa que, na mitologia
grega, Prometeu acorrentado, e atacado pela águia en-
viada por Zeus, via seu fígado renascer a cada dia.
Nossas mãos falam o tempo todo. O dedo inquisidor
do passado escolar seja substituído pela mão (freiriana)
que acolhe. O dedo acusador seja transformado num
dedo que indica outros caminhos para diversos tipos
de caminhantes.
Um dos segredos do coração é a “cordialidade”. O
corpo nos ensina a agir assim, com o coração cheio de
vida e afeto. Com o coração nas mãos. Darcy Ribeiro
dizia sempre: “A educação é uma das causas da minha
vida. Por isso mesmo, falo dela sempre emocionado,
com o coração na boca”.
E, no alto, a cabeça. Tomando o envolvido pelo
envolvente, empregamos a palavra “cabeça” meto-
nimicamente para falarmos de nós mesmos como
seres cerebrais.
Dizemos que uma pessoa precisa abrir sua cabeça
para receber sem medo novas informações e realizar
raciocínios mais arrojados.
É importante manter a cabeça fria, administrar com
lucidez nossos pensamentos e emoções para que o cé-
rebro nos ajude a tomar as melhores decisões.
Não faz sentido querer colocar dentro da cabeça dos
outros, à força, as nossas ideias e opiniões. Nem mes-
mo o que sabemos ser evidente e incontestável. Cada
cabeça produzirá sua própria sentença. Cada pessoa
deve aprender a avaliar o mundo por sua conta e risco.
Cuidar da cabeça é exercitar o cérebro com leituras,
experiências esportivas e estéticas, meditar, cultivar
amizades, fazer pesquisas relevantes, manter conver-
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motivar a imaginação de modo construtivo, organizar
planos para o trabalho e para o descanso.
A educação do cérebro também é emocional.
Na arte de ensinar, precisamos cuidar do corpo.
E é com o corpo que praticamos essa arte.
Gabriel Perissé
é professor da PUC-RS, escritor e palestrante
http://www.perisse.com.br