Fernando Louzada
é doutor em Neurociências e Comportamento pela
USP e pós-doutorado pela Harvard Medical School
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ta (TEA). Essa hipótese tem respaldo em estudos rea-
lizados com animais germ-free, os quais apresentam
comportamento social alterado, uma das características
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causas do TEA são desconhecidas, sendo que fatores ge-
néticos e ambientais têm sido associados ao transtorno.
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tinais – como constipação e diarreia - e alterações imu-
nológicas nesses pacientes, como aumento de citocinas,
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nhal. Estudos comparativos da microbiota que utilizam
sequenciamento genético e análise metabólica dos mi-
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diagnosticadas com TEA e crianças neurotípicas. Uma
das diferenças é uma menor diversidade da microbiota
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dessa alteração, já que com frequência crianças com
TEA possuem alterações na dieta e no comportamento
alimentar, o que poderia alterar a microbiota.
A partir dessas evidências, têm sido realizados estu-
dos para avaliação dos efeitos da indução de alterações
da microbiota. No início deste ano, experimento reali-
zado por pesquisadores do Baylor College, em Hous-
ton, EUA, e publicado na revista Neuron, mostrou que a
introdução da bactéria Lactobacillus reuteri foi capaz de
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que são utilizados como modelo experimental de TEA.
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dos, os autores especulam que a ação seria via nervo
vago, que promoveria aumento da plasticidade sinápti-
ca em áreas encefálicas envolvidas com o comporta-
mento social. Resultados como esse têm dado suporte
a intervenções de transplante fecal realizadas nos úl-
timos anos, as quais ainda não apresentam resultados
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transtornos de neurodesenvolvimento.
É importante salientar que para que seja comprovada
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tinal e o desenvolvimento de sintomas do TEA são ne-
cessários mais estudos – primordialmente longitudinais,
que acompanhem as mesmas crianças - que envolvam a
análise da composição da microbiota desde os primeiros
meses de vida, época em que um possível efeito sobre o
sistema nervoso deixaria marcas mais duradouras.
Em resumo, a relação entre microbiota intestinal e saú-
de mental é intrigante e apresenta inúmeras controvér-
sias. Apesar de ser uma área promissora, ainda é cedo
para sabermos se serão geradas intervenções seguras
que possibilitem a prevenção e/ou o tratamento de trans-
tornos do neurodesenvolvimento. Dada a complexidade
desses transtornos - como é o caso do TEA - é pouco pro-
vável que surja uma solução simples para eles.