Educação - Edição 260 (2019-08)

(Antfer) #1

ENTRE MARGENS


José Pacheco
Educador e escritor, ex-diretor da Escola
da Ponte, em Vila das Aves (Portugal)
[email protected]

Entre os dias 24 e 26 de maio deste ano, um educa-
dor português teve oportunidade de participar da #¼ÊŒ¼
Education Conference, que decorreu no sul da Índia. Cou-
be-lhe a difícil missão de representar o Brasil e a América
do Sul. Missão difícil, por ser estrangeiro e a educação do
Brasil não ser para amadores.
Projetos de uma Educação com Base em Valores – era
esse o tema central do congresso – foram apresentados
por países como Estados Unidos, Israel, Laos, Austrália,
Índia, Malásia, Costa Rica, Tailândia Reino Unido... e Bra-
sil. O projeto apresentado pelo representante de Cinga-
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penho dessa ilha-Estado do sudeste
asiático no Pisa (em que ocupa o pri-
meiro lugar nas três disciplinas ava-
liadas: ciências, matemática e leitura).
E outros projetos de idêntica valia fo-
ram dados a conhecer.
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base em valores é formar o caráter, isto
é, a unidade entre pensamento, palavra
e ação. Foi o que Freire repetiu à exaus-
tão, apelando a que a intenção e o gesto
do educador fossem coerentes. Inspi-
rados na obra desse mestre, em mea-
dos da década de 1970, numa pequena
escola do norte de Portugal, professores (freirianos, graças
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tuir práticas coerentes entre pensamento, palavra e ação.
Esses educadores desenvolveram uma práxis fundada
no paradigma da aprendizagem. Num tempo em que o
“protagonismo juvenil” ainda não fazia parte do discur-
so pedagógico, concretizaram, na prática, valores como a
autonomia moral e intelectual do aluno. Esse projeto foi
referência e inspiração de outros projetos.
Trinta anos decorridos, o iniciador desse projeto viajou
pelo mundo, conheceu centenas de projetos, visitou milha-
res de escolas. Até que o Brasil lhe mostrou o quanto estava
equivocado. Aprendeu que aprendizagem, para além de ser


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porque ninguém aprende sozinho. No Brasil, aprendeu que
a aprendizagem está centrada na relação.
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novos valores e encontrou caminhos de transição para o
paradigma da comunicação. Aprendeu que escolas não são
edifícios, que as escolas são pessoas e que as pessoas são
os seus valores. Quando esses valores são transformados
em princípios de ação, dão origem a projetos. E, porque os
projetos humanos são coletivos, o estabelecimento de vín-
culos amorosos viabiliza e consolida o trabalho em equipe.
Hoje, esse educador colabora com
escolas, que desenvolvem uma edu-
cação com base em novos valores. A
viagem à Índia permitiu-lhe perce-
ber que, apesar de o Brasil ocupar
os últimos lugares do ranking mun-
dial de educação em ciências, leitura
e matemática, o Brasil é o berço de
uma nova educação.
Os projetos apresentados no con-
gresso tinham por referência valores
caraterísticos do modelo educacional
da primeira revolução industrial: in-
dividualismo, competição, egoísmo,
exacerbada autoestima. O projeto re-
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nhecimento do outro, solidariedade.
E o representante do Brasil se interroga: por que vão os
brasileiros visitar projetos dos Estados Unidos e do Japão?
Por que copiam projetos da Finlândia? Talvez porque não
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Finlândias humanizadas.

Aprendizagem
não está
centrada no
professor, nem
no aluno: está
centrada na
relação, porque
ninguém
aprende sozinho

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a unidade entre pensamento, palavra e ação


Educação com base em valores


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